segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Click


Click, fora o efeito sonoro do furto de seu ventilador, o calor estava insatisfatóriamente desgastante, degradante e entre os furtos e furos nas orelhas, ressoava entre os dentes o pouco português que sempre nos falha. A fumaça, continua, inflamando os pulmões de densidade demográfica, justificando os meios aos finais. Eram quase meia noite naquele apartamento de estofamento nitidamente brega. As pestanas fechando tanto o quanto fossem necessárias, e o sobrenome se alteraria por gosto próprio da malandragem. Dos sons nada pode se dizer além dos ecos sob o silêncio em pensamentos torpes em literatura barata, culminando em sorrisos satisfatóriamente debochados. Maldita liturgia.

- Certo rapaz! - Pensou rápido e ávido, de modo a marginalizar a postura recorrente de si mesmo e sorrir pela falta de argumentos plausíveis apresentados.

Todos os comprimidos, despojadamente deixados para poder dormir, e todos os blás ditos a si mesmo em seu núcleo doentido passaram a ser uma distração fugaz, tanto quanto o demônio teria em um carteado. O prazer já se via como o de uma meretriz de classe aconchegada ao sofá, contando sobre "As incriveis aventuras de Gulliver", de modo que o sexismo deixava para a realidade dos fatos, dos corpos e da sujeira entre tais quadris, em um balançar frenético, em uma sorte de fome por absurdos. Click, e o cigarro na boca pensando em todos os combos gráficos que poderia instaurar, em toda a vista pro mar que teria e almejava alcançar. Sorte, fortuna e poucos amigos, assuntos meramente ilustrativamente sujos, sacanas e totalmente literários. By your side tocando desprovida de anúncios no rádio, bons e velhos tempos de malandragem recaíndo aos ombros sem dolo algum e a campainha tocava intermitente. Levou se aos berros.

- Que passa porra!- Caminhava e caminhava, torpe pelos corredores, acordado, zumbi do mato enjaulado, e porra nenhuma o vestia. Os pensamentos eram de tensão, tesão e outras atrocidades com "T". Pensara também que se todo excesso fosse visto como fraqueza e não como insulto já o tiraria de seu sufoco. Abria a porta semi nu, sem fontes ou clareza na vocalização.

- Humm... Você?...

- Sim! Eu...Não gostou? - Mortalmente vestida, velórios costumavam ter menos roupas.

- Não, esperava mais de você pequena.

- Mais? - Levemente alterada, adentrou sem nenhum convite, sem nenhum dolo. Nem mesmo um minuto à mais poderiam ranca la de sua pouca e literata vestimenta, tal qual Golias, tal qual o mito do minotauro.

Fechou a porta, e de pronto, sugou sua sáliva, ácida, pecaminosa, e nada puritana.

- Na verdade você pode querer tudo, mas não pode ter! Tá na sua face mas não colado nas tuas mãos. - Respondeu com um certo humor nos lábios.

Ao que os deuses podem profanar, ao que os mesmos podem outorgar, o dia riria de si, menos românces e muito mais ação. Naqueles segundos, os preciosos Sí bemois eram pontos de quem adentrasse com mais ardor às pernas do adversário, puramente brindando ao aprendiz de diabo e rogando da virgem sua virginidade. Meia hora depois, chuva de sangue na avenida de são miguel, cigarros em brasa e corpos em massas, a verdadeira fonte da idealização comunista saltaria da base alimentar do proletáriado, e não de seus bens como diria papai noel. Era notória a fumaça e o básico desconforto em se pronunciar quaisquer sílaba. Qualquer fonte de ar era subjulgada por tons cinza e azuis, pelo covil abrasivo, pelo mod rock aposentado. Alí apodreciam ao se chamar de quaisquer nomes, porderiam burlar quaisquer fontes de luz, e aquecer qualquer termostato. Click, e liga se a velha matadoura de monstros. A Televisão alta, evocando pouca conversa, a formalidade pairando em corpos nus, e por fim os ultimos suspiros ao se adormecer com o óbvio.

2 comentários:

Dai.. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Érica disse...

Click e amanhã esse cigarro vai me dar dor de garganta.