segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Vulture


Brisa fina é uma glória para os que caminham no calor do centro da cidade, entre mulheres fáceis, desgostosos idosos comprando seus medicamentos indolores, e uma camada que se posta apenas a observar de apartamentos antigos e altos, firmes e rijos, tijolos por tijolos a vista será apenas mais um comprometimento de suas almas. Vulture, Albatroz, ou qualquer carniceiro que viva dentro de você. Viva e deixe viver, ou adote um ego ambulante e suje um pouco as mãos de graxa. Aqui e ali ambos ficaremos imóveis, completamente mutáveis em prol de certos centos de trocados, não é delicioso ouvir o som das ruas, como o ruir duvidoso da coleta seletiva de lixo? Sim, todos estariam em uma "variedade" especifica do mesmo, contudo vibremos e vislumbremos a história de nossas vidas, momentos antes de morrer, e chamaremos isso de glória, a isso daremos o carinhoso apelido de beijo luxuoso no lixo.

Bebo todo santo dia cerca de oitos copos de uísque, e não me importa se é caro ou barato, na maioria das vezes depois do primeiro copo nem sinto mais o gosto mesmo. Difícil, diria eu, seria encarar todos os dias com o mesmo sorriso no rosto, falso, daqueles que apenas se tem por costume, ou por boa aparência. Foda-se, não acredito mais nisso. Mas veja bem, já fui como você, e você já será como eu. Não há culpa na salvação, assim como não existe pecado nos trópicos. Quente como o inferno, divertido como o mesmo deve ser! Absurdo talvez, mas quem se importa. Enfim, irei eu contar algumas histórias, e no mesmo período outras acometeram tuas entranhas, como se levasse seu "broto" ao cinema com a intenção de lhe apalpar os seios e em absoluta magnificência divina conseguiria uma noite divertida. Mesmo que sua parceira seja cega surda e manca. Engraçado a ironia da vida.

Meu nome não se diz, tão pouco os anos que faço, minhas rugas dizem mais de mim que eu mesmo poderia enumerar, contudo veja bem querido, não sou durão, apenas faço o que tem que se fazer. Imagine passar uma vida fugindo de seu próprio rosto, e acredite ao final das controvérsias, mesmo que obscuramente você o faz. Trabalho, digamos que com frellas, ou seja, muito trampo com as mãos, pouca gratidão, e quase nenhum "louro" romano por seus feitos. Mas nem só de trabalho vive o homem, tenho minha garota, o difícil é nomeá-la, com seu um metro e sessenta e oito de puro tesão feminino, mas veja bem, não é fácil nomear o que a cada casa muda seus proclames. Além disso, não seria um problema se existisse mesmo um deus, ou se ele não atendesse pelo meu nome em certos momentos.

Meus pulmões já estão comprometidos comigo mesmo, disse eu ao doutor, quando o mesmo mandou-me à um auxilio psiquiátrico, na tentativa frustrada de me fazer parar de fumar. Inútil, mas quase todos o são. Como o cego desdentado que absurdamente toca sanfona no sinal, pedindo moedas e encobrindo seus dotes de grande comerciante de material ilegal, oficio esse que ao que consta aprendeu de 1973 a 1988 quando cumpriu pena por violência domestica, ou achavam mesmo que ele era um velho inofensivo? Como eu disse todos somos carniceiros, assim como o Frei que estuprou cinco crianças dizendo ser o espírito santo, e quando pego alegou ter distúrbios mentais, não antes de dizer que os pobres meninos estariam mentindo com seus rabos despedaçados. Como eu gosto de dizer, ele era apenas a pica do diabo divino dentro dele, ainda existem outros órgãos corrompidos.

Violento não? Não, a vida imita os quadrinhos do Miller, ou seriam eles que imitariam a sua vida? Serão alguns dias de memórias, alguns dias de danos mentais reparáveis com benzo-diazepínicos. Aguarde!

domingo, 27 de setembro de 2009

Entrelace (Parte I)


Tudo redobra em estampidos fortes. Não passavam de três da tarde e o estomago rangia como uma degola de cabras. Outrora, outorgado do sabor de sangue, aqui estou eu. Sem erros, e acertos. Deveria ter tomado mais cuidado, menos ansiedade, mais acidez e talvez um tanto de inocência. Nem todo gato cai em pé. De fato cada um sabe onde apertam seus calos, suas mazelas entre tantos infortúnios propagados à Deus ou o Diabo. O suor frio da face, os carros parados, trânsito maldito, carro maldito, acidez clarividente. Solitariamente tal qual o verme come, abaixavam em embalagens retorcidas, mãos de modelos, corpos de prostitutas e pinturas de meretrizes, tal qual era o desprezo, tal qual era o prêmio à atuação. Existem dois momentos na vida, aquele em que se recorda dela, e o que se esquece dela.

Joelhos postos ao chão, olhar ávido de fogo, pulmões corroídos pelo monóxido, rostos suados contrapostos aos assustados. Os fracos sempre têm vez, de modo que burro é aquele que fica para ultima bala. Esse burro parece ter sido eu. Sinergia, anfetaminas, cafeína e nicotina me trazem talvez uma alternativa, o caminhão livre que roubarei à esquina, as pernas da madre, e tão composto é a densidade da pistola. Cano quente e fumegante. A lembrança de seu beijo no pescoço entre todos os antigos macetes não me permitia ao erro. Três corpos no chão sem cabeças, dois anteriores de tom completamente arroxeado e uma vaga lembrança do que fora meu dia. Dos olhares ardentes dela, mistos de euforia e medo, ao brilho efervescente instalado na minha cabeça dizendo certeiramente que sangue rolou, e rolaria mais.

Naquela tarde, pouca coisa indicaria o banho de sangue, lidava eu com mais uma rotina desalmada dos corpos que caminham sem alma, lidava eu com mais um dia de ignorância afirmativa, com paradoxos corporais, mentalidade incompatível e uma boa dose de lixo. Absoluto gosto de café na boca e uma ofuscada idéia do que é o sono de uma noite anterior bem destilada. A alforria do homem não está em quanto dinheiro ganha, mas no quão se esforça para adquiri-lo, de modo que, corpos nus normalmente são mais coesos que qualquer formulação teórica. O brilho intenso da luz arremetida à vidraçaria do boteco, onde porcos como eu caminham livres procurando alimento, destroçava a retina, de modo que nem mesmo a figura mais tênue de nossas trepadas caberia em minha visão mental. O V-8 me esperando, o colarinho cuidadosamente ajeitado, e aquelas palavras surgindo entre os timbres da minha cabeça. “Fale exatamente tudo o que achar que deve, mas não espere gratidão de algum possível rosto feminino”.

Ao sair do botequim, apenas mais uma velha conhecida imagem das ruas remetia à algo como Beirute pós guerra, ou Bagdad entre traques juvenis. Gente feia, mal acostumada com o termo humanidade. Entre o calor infernal propicio para o acasalamento de baratas. De tal modo que nem mesmo se aqueles corpos estivessem nus chamariam à atenção sexual de um maníaco. Talvez um carniceiro, não qualquer predador, e bastam alguns passos até a esquina pra comprovar o mau gosto destilado em suor, mau cheiro, e completa falta de classe mesmo com a imundice. Raras são as espécies aptas a compreender o que é a beleza nesses dias. Ao menos onde me ocupo existe isso por vezes.

Passos lentos, métrica pouca, e só, somente Graça nos dias de hoje valeriam mais do que uns trocados. Personificação da santa. Enfim, santas não dormem com mulheres, enchem o rabo de álcool, acabam por se marcar mais do que um escravo, e são tão sexys quanto o Demônio as fariam ser, conceberia assim se nesse plano estivesse, entretanto, só uma santa doaria prazer a corpos infectados pelo ódio, preguiça, avareza, luxuria ou gula. Mesmo que com uma quantidade absurda de dinheiro envolvida, somente uma santa dormiria com um gordo, não só apenas por dinheiro, mas por caridade. Graça era a minha mulher, meu tipo de mulher. Com o cheiro que os anjos devem ter, entre a boca que as meretrizes absolutamente ocupam, e o gosto que o diabo prova após um dia de trabalho.

Fazíamos todos parte do ramo de entretenimento, no qual, e somente no qual o grito é uma formula barata de prazer, o beijo do lixo no luxo, ou do luxo no lixo, nunca soube classificar bem, de maneira que pouco importa. As linhas circulares de seu corpo sempre me faziam perder a cabeça. De modo que nem mesmo sei como e porque a visão de suas cobras tatuadas me renderia mais que um malandro qualquer armado conseguiria. Uma visão nesse mar de almas sôfregas.
Acendi meu cigarro e caminhei ate o ponto onde aguardara meu veiculo, é absurdo como pessoas ainda pedem cigarros e tendem a te recriminar por mandá-las procurar um emprego. O mais absurdo é saber bem qual o tipo que lhe empunhasse tal pergunta. Sempre os mesmos de cabelos negros ou tingidos. Semi-sujos, com um vocabulário torpe, que nem a frangos metem medo. Aproxima-se lentamente, de modo que você percebe bem a sujeira entre seus dedos, a gordura na face, a pele queimada pelo sol e frio, e nem por isso são mendigos. Um mendigo teria mais classe. Os passos desses mortos vivos se traduzem em desespero, os olhos em aflição, arregalados como não mais o de uma fuinha esfomeada. Se a fome dói não é culpa minha. Desses tipos a única vantagem que se pode ter, são as drogas. Fácil acesso e baixa qualidade. Entre o que se pode chamar de alma nesse tipo, seria apenas a conjectura de um paspalho, enfim atrasado é que eu não iria chegar.

Abraçado pelos tentáculos do Diabo, seguiria eu à mais um aglomerado de sons, sirenes, estampidos e rojões, com sorte ao final do dia seria abençoado por cafetões e piranhas ate chegar ao clube, e por fim, trairia mais uma vez a verdade absoluta de padres ao ameaçar a vida de alguém com uma navalha. Enfim, são momentos como esses que fazem de você um sujeito de sorte.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

No Way Back From Here



Pegou as botas e as colocou novamente sua face na privada do banheiro. Dessa vez jurou por si mesma, que de alguma forma bizarra que fosse, procuraria a verdade além do ralo. A dignidade não se torna um inferno à toa. Conspirava com sua saia em courinho preta, curta, mas não muito, as meias arrastão, entre as pernas roliças que cantavam ao mover-se, de modo que nem mesmo um velho safado deixaria de entoar um agradecimento aos céus. Cansada de falar, falar, e falar, ouviam apenas as letras das ultimas canções da saudade. O Exílio, o domínio do ser que foste um dia já não era palpável, apesar de necessário. Ingrata a vida de quem anda, anda, e ainda assim não se sabe ao certo em qual tom começar a gritar. Essa seria a ultima canção, dentro de componentes falhos, e atos falhos, ao passo que teria a eternidade para conjecturar seus procedimentos pretensiosos. A aristocracia é algo a se invejar.

Cabelos soltos, já na altura dos ombros, definidos como um novo Way of Life, o excesso de expressões livres e regra chula. A inominável fome que sentia de timbres pesados de trombone. O sabor da lealdade tonto em meio a todos os goles de vodka, absoluta. Todas as palavras brotariam na face, mas jamais as diria, assim como jamais deixaria as mãos de um cafajeste tocar teus seios. Não tão certa disso, nem mesmo os azulejos de banho, as tomadas em curto-circuito, e os bombeiros da brigada mais próxima podiam avaliar essa normativa. Seu único companheiro não deixava de ser um traste, o objeto de consolo mais comum não passava de esguichar água, de modo que o ralo lhe era mais fiel, mas cômodo e mais misterioso que qualquer nova descoberta. Lamentável.

O autor diria que esse é o tipo de situação em que se percebe Foo Figthers é uma boa banda, e Jorge Amado um bom roteirista, enfim, tanto quanto as genitálias, as idéias e percepções não vacilam muito bem. Não existe ponderação, e o choro corre tão solto quanto o tiro no ouvido. Rabiscado e sem curvas, como a pele. De oncinha à óculos escuros, da sabedoria popular, até o Bruce Willis Lifestyle não existe margem para a moderação. Não beba no trânsito, ou trabalhe chapado. Não discuta com um cliente ou bata o carro. Todos esses não’s à ela pouco fodiam. A ultima experiência de trepada não fora tão interessante assim, salões de festas não têm glamour, aja visto que ela jamais recobrou seus pensamentos horizontais.

Do xadrez do vestido, pedia-se apenas vislumbrar o sol tocando as sombracelhas, da maquiagem obscura todos os detalhes de uma carreira ainda por vir bem fadada, de um tempo bem vivido e mal experimentado. Mas de todos os poros apenas o ralo permanecia virgem e imaculado. Apenas o ralo nada além do ralo era teu confidente, e mesmo o ralo não enxergava a lua como deveria ser. A pele cheia de comichões, a face tensa de vergonha e os olhos marejados de dor. O balé acabou, e determinou mais algumas alterações. Novas conjecturas, velhos jeitos de prometer ações. A vida nada mais é do que ranhuras de um long play, de modo que você é o que consome e o que dorme pra ser. A crônica perde o sentido e a prosa atormenta teu estilo. Quem houvesse de ser um marechal para dominar o mundo faria uma lei contra isso. No way back from here, nem mesmo com a nova batida do verão há de se sentir bem. Mas o ralo, o ralo ainda está lá, de maneira que, tudo o que Fitzgerald diz fizesse sentido. Nicotina, cafeína, codeína, Álcool, THC, clonazepam, cloridato de metilfenidado, e muito sódio, ainda provam que você tem força.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

HOTEL LIBERDADE CHECK OUT.


Noite quente, Um zumbido intermitente no ouvido, ônibus ao fundo. Parei no Hotel eram umas vinte três e meia. Fiz o check in, e me encaminharam ao quarto, cerca de cinco minutos depois o inferno começou. Mas não é daí que começa essa crônica, nem de longe parte a narrativa. Existe bem mais do que apenas começo meio e fim, e muito mais torturas que a carne pode supor, de modo que não seria justo começar a desdizer, criticar e auto-avaliar a si mesmo sobre tais circunstâncias. Alguns sempre que possível trazem a tona o fato de não ser mais tão inspirador, interessante ou menos casual. Sempre que possível trazem esses sons Echo's e afins, armam suas barricadas e por fim você está enforcado por um Dj qualquer. As músicas não têm mais o que dizer, suas letras variam entre "I've got nothin' to say...", os filmes uma tortura de "Trabalho sem diversão fazem de Jack um bobalhão!". Bom, eu. Eu faria de Jack um espertalhão, mas o enredo não é meu, e já por horas rodeei pra prover de onde termina e onde começa a crônica, certamente não do nascimento.

Com sete palmos a baixo do sol, escondendo suas sementes caminha vagarosamente o ser pela terra, progride feito de bactérias e microorganismos, lê-se, estuda, e por fim para que? Para algum retardado reformar a gramática e por franqueza demais dizer que tem que reaprender, e de fato se tem, aprendi isso sempre levando surras em bordeis, esquinas, e as vezes batendo em cafetões. Como diria um amigo meu, "Não sei se você matou essa prostituta! Tudo bem, você a esmurrou muito, jogou uma cadeira em cima, e a asfixiou com um saco, mas eu não sou médico! Ao que me consta ela pode ter morrido de causas naturais!", e bom, bem como sabem é assim que se progride na terra pródiga. Nicotina, fumaça do trânsito, o ar quente expelido pela boca nojenta do guarda no sinal, e o comprador que não se cativa com o material exposto. Tudo isso foi o começo do fim. Quando digo, a sete palmos abaixo do sol, escondendo suas sementes, de modo a perseguir com gratidão as ruas, e extinguir alguns de seus melhores defeitos, não é mero exagero.

A insônia reconte a malandragem absurda, e as peraltices de fato tornaria naquele rebento uma bela imagem de vida. Ainda muito jovem para fumar, e muito velho para apenas chorar. Aprenderia de fato como somar, e dividir, mas nada que subtrair. Na narrativa de Dylan diriam "que nada posso ter de culpa se eu ganhei um milhão. Apenas sou sortudo.". Dyln, café e cigarros seriam as próximas questões de sua vida. Provavelmente seres pediriam crônicas sob encomenda, o pior, de graça. Seu talento só era bem visto mesmo quando esperavam algo de si mesmos e não podiam encontrar embaixo das próprias saias. Dos aproveitadores que se julgava amigo, aos pobres podres e fodidos mendigos que se apaixonavam pelo seu bolso, de maneira que sentido não teremos nessa crônica, sempre parte de você essa iniciativa. Sempre cabe a você montar o texto, o livro de boa nova não foi compilado assim?

A habilidade de queimar seus pés sobre o chão, e tatuar círculos no braço apenas provam que você envelheceu, e depois de tantos dias tranqüilos odiou. A gastrite volta, e qualquer coisa que você pense de mim será em vão, porque e apenas porque eu quero assim. Todos deveriam querer as alienações de um quarto de hotel. Outono, uma das estações mais chatas e mais atraentes do universo. Dois maços de cigarros vermelhos ao dia, três garrafas de café, e dois copos de coca por hora, estatísticas de um velho a beira de um ataque de nervos e mesmo que a arma estivesse carregada, ainda não seria a hora de usá-la contra você ou eu. No edifício onde a liberdade é técnica figurativa, os vizinhos se fecham em copas, o que nem de longe é um pecado, os cães ladram e pelas grades vemos a caravana de carros passarem. Logo abaixo o mercado persa, sem seus tapetes figurativos, onde os loucos proclamam métodos de assassinato sobre um sol mais quente que as garotas da cidade, mais quente que o inferno seria um clichê desnecessário.

Ainda assim, passavam da meia noite, a música nada soft turbilhava arranhando os sons da rua, as furadeiras que outrora arrebentavam meus tímpanos em forma de motocicletas apenas narravam mais um dia na cidade, mais um inicio de noite. Mais uma dose de uísque para foder com essa gastrite!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Fique Com Ela.


Hollywood Filters, definitivamente são o pior gosto que se pode tirar da boca! Assim desperdiçando meu tempo, amassando meu dinheiro entre suas coxas e roçando minha dignidade dentro dos teus roteiros frágeis e rotineiros, qualquer idiota social poderia apanhar meus segundos e doar para a caridade, sem medo do clichê e senso comum que abate teus fixos olhos. Ah, o negro dentro do cinza, o branco por compor, e as tiras vermelhas rodeando a insônia que trazia o conforto do lar. Estava eu tão ansioso por voltar na noite seguinte e roçar mais uma vez meus centavos nas coxas dela, que a gastrite novamente teria de ser o tom da graça, tiros revolveres e pistolas por todo lado. Queime a si mesmo e continue em brasas. Teoricamente algo fácil de fazer dentro daquele quarto escuro, com chão vermelho, cama mal arrumada de outros e outros hits de clientela, mal podia se tatear entre os seios, mal podia mirar com gosto meu anseio!


Como as Filipinas rendendo graças a Muhamed, as bruxas ardendo nas fogueiras e meus calcanhares desprovidos de munição foram apenas mais uma cruel brincadeira do tempo para extinguir a separação, de modo que o radio continuava tocando a nossa canção, mais um clichê, menos uma emoção. Os lábios vermelhos tateando meu corpo, os beijos e caricias tonteando meu centro gravitacional, que cheiro, uma pocilga com um aroma de classe, vodka e tequila com ar de qualidade barata e um doce sentimento infanto-juvenil de estar próximo a mãe. Madre santa, cassino e outras lembranças que o tempo rasgará. É minha irmã, o tempo se veste rápido.

Mesmo solitária ela estava comigo, e mesmo queimando como gasolina, poderia orar uma prece, de modo que eu pouco fodia para isso, como diria o mártir. As garras compunham o serviço bem feito. Deus como eu poderia casar com essa mulher, levá-la ao altar e depois estourar teus lindos olhos num ápice de gozo e discórdia. Claro que isso me faria futuramente arremessar teus miolos pela janela, e sentir no cheiro, o gosto da carne, de modo que ela postergaria teu epitáfio e atiraria gotas na minha face, mas eu nem ligaria. Mulheres de biquínis e metralhadoras sempre foram sexuais.


A maneira como ela atirava seu sexo na minha face desprovida de naturalidade, e a imposição dos tremores financeiros fariam do mercado financeiro apenas um pontapé inicial para uma crise sem precedentes, mas nós estaríamos ainda em chamas, quentes envoltos e lençóis e radiantes pelo momento, de fato diferentemente radiantes, eu pelo tempo perdido, ela pelo dinheiro ganho. Mas não é que seriam todas assim? Mesmo dizendo não dizem sim, e dizendo sim quem se importa com o resto. Sairia as quatro, e só voltaria na semana seguinte, de maneira que jamais largaria aquele cômodo artifício.

Ultimo cigarro da noite, o tempo se foi, como bem queria o senhorio. Através das frestas da porta do banheiro sentia ela esvaecer de um tempo técnico, a noite ainda aturaria mais maltratados para seu berço. E de nada adiantaria teus cabelos doces seu ar de suposta proteção, e a calmaria para abater a sensibilidade de uma mãe que apenas gostaria de fornecer o pão a tão pobres meninos. Santa Madre. Religiosamente Santa Madre.

domingo, 15 de março de 2009

Tomorow Never Knows!


Um imbecil, de rosto quente, pele alva, cigarro na boca, terno no corpo, cabelos curtos e vozes no ouvido. O carro não passaria de cento e vinte por hora, as luzes não iriam iluminar seu horizonte, faróis apagados, entre o sacolejar da pista, de modo alguém seria um dia perfeito, o que provavelmente não diria ser um dia imperfeito. Normal, atribuído ao teu peito, gritando nos ecos de seu silencio, qualquer fogo que viesse seria de seus pulmões, toda e único brilho seria da lataria envolta sobre si. Vinho tinto e confusões, uísque e nicotina, cocaína e codeína, chegara a hora do rock horror show. Passaste uma borracha no passado, guia-se sobre as novas e turvas fontes do prazer, onde o dinheiro rola solto e o riso frouxo, de maneira alguma seria apenas mais uma brincadeira. Não, agora é sério. É quase pai de família, quase um demônio vestido de demente, quase um famoso ilustre desconhecido.

Seis da manha João! Eis me aqui senhor Gilberto, pronto pra mais uma cria de diversão. Sexo, trapaças e terrenos, quantos terrenos. Apresse-se, o tempo é curto para conquistar tudo que você agora teme que idealizou. Mova o passo, largue a arma ou eu mesmo atiro em você! Acompanhante barato de columbinas, prostitutas e donas de casa. Não é que você não vale um centavo gasto! É João teu uísque já está cheio de água e resta encher mais o copo, pasme você não é assim tão incompetente quanto vê, de modo que não sou eu a falar com você, mas você a irritar minha garganta com o monossílabos durante a manha. É segunda feira e você se demorou demais pra chegar, transito de merda, cidade de merda, maldito corre-corre dos diabos!

O saxofonista tocou a primeira nota e no embalo de curvas fechadas, pessoas estranhas e mulheres desdentadas você ira sacolejar no ônibus. Dane-se, quem mandou ser quem foi! Hippie, punk, maldito, e agourado, agora se intitula o conselheiro. Belo conselho, ande logo, desça pelas escadas e corra, mas sem demonstrar a presa que aquece teus intestinos, avante HOMEM! Nem mesmo um cigarro vai te acalmar depois que entrar lá, de modo que um por todos e todos por um só se for ao seu patrão! Educado, dê teu tempero ao dia dos outros, tome a mão o café encha o copo pra não ter que voltar, pare de analisar os outros você não pode querer tanto assim! Bem verdade, você quer, teu sangue pede por isso, como um satélite que guia algum radar. Faça tuas ligações em silencio, que agora é a hora do show! Denovo.Cedo ou tarde, você terá de convencer alguém, que ele compre teu rosto em prol dos arranha-céus, que ele dê um soco, após descobrir teu talento natural. Não se preocupe que você revidará e agora se concentre, outros estão correndo no páreo e bem a frente. Pressionado meu caro? Tem a audácia de dizer isso? Claro você corre como um louco, mas ainda padece de experiência, certo, dizem que é tudo ao seu tempo. Pena que você não tem um, não é? Engula o café quente que é pra torrar teus sentimentos estomacais, e se preciso for, trate de negociar um vortex cerebral novo, não é bem esse o nosso ponto! Corra para engolir, volte a tempo da reunião, e se mande rápido. Desligue a porra do interruptor antes, e como sempre pode ser que você aprenda algo novo. Tomorow Never Knows!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Noites de Cabíria (Parte IV)

O som do trompete não poderia competir com suas risadas a cada curva. Entusiasmada como uma adolescente em sua primeira noite, talvez menos insegura, essa parte cabia a mim, que absurdamente velho, me via como um desempregado na fila do serviço social. Sim a geração perdida abria espaço agora apenas paras as notas do jazz, e mesmo que um imbecil qualquer pronunciasse em sua lapide, “Aqui jaz alguém que não gostava de Jazz”, o mundo trataria de explicar-lhe a dinâmica do tempo, de modo que cada vez menos eu teria motivos pra sentir-me isolado, muito embora também não me permitisse sentir confortável em furtos.

Qualquer esquina dobrada pra ela era uma festa, como se sua espinha profanasse catacumbas no Egito, como se o mundo terminasse em champanhe, dry martini, conhaque ou qualquer tipo de vodka. Para mim o “Speak Low” era a ordem do dia, para ela parecia mais ser algo como a luxuria dos bailes nazistas, com um gosto de Mata Hari na boca, enfim, era eu mais um dos muitos domesticados pelas imagens de Ford, enquanto o cavalo branco de Wayne pastava sem nenhum arranhão em um globo feio, sujo e podre, enquanto ela despia-se da tensão de uma maneira completamente tendenciosa.

É fato que eu estava mais tenso que qualquer gato acuado, dentes rangendo entre dentes, mas não. Não poderia aparentar um sujeito inseguro, pronto para ser confinado em um abate, esperando a hora de ser degustado por gordos, ou crianças famintas. Logo pensaria em me recompor. Não falei nada do caminho do hotel até a avenida cujo nome leva nosso rio. Boca seca, olhar frio preso ao volante. Sim boneca, eu precisava de algo, quebrar o gelo e esquecer por um minuto que estava preso em um carro roubado com uma mulher deslumbrante no assento do lado, de modo que me coloquei a buscar um cigarro e fitar aquelas coxas, que coxas! Desviei-me duas ou três esquinas, veja bem que nem todos coexistem com uma boa memória. Estacionei em um canto escuro, onde alguns metros acima destemidos bebedores acompanhavam uma partida da seleção pelo rádio, embriagando-se de felicidade pelos gols marcados de Vavá, o Brasil sempre foi criativo em apelidar jogadores. As risadas dela cessaram assim que o carro se pos sob a sombra de nossos destinos, onde de fato eu provaria a mim mesmo não ser o “senhor pacato” e teria ao menos uma oportunidade de explicar-lhe meu ponto antes de prosseguirmos. Ao abrir da minha boca as palavras surgiram tão rápidas que um trago bastava para explanar conjecturas políticas no Itamaraty.

- Ouça! Corro o risco de que perca qualquer admiração que tem por meus escritos, qualquer ponto positivo que tenha visto em mim, sobretudo qualquer possibilidade de terminarmos essa noite dançando. Mas tenho que ser sincero e falar-lhe sobre quem sou eu. – Sua face poderia ser a mais bela do mundo, ao seguir dessas palavras minha impressão era de um desconforto clássico. Claro, que idiota faria o que eu fiz. – Você pode ter tido uma impressão mais ácida sobre quem eu sou pela forma como debato sobre um tema querida, mas daí a envolver-me num roubo e achar que tudo esta perfeito é um tanto demais não é?Ela abaixou a cabeça, voltou seus olhos belos para a bolsa e quando de volta retornaram ela acendia um cigarro. Ali eu joguei fora minhas esperanças de terminar a noite bem e satisfeito, tinha provavelmente jogado fora a chance de me envolver com o charme e o que era pior de uma forma completamente rude. Poderia dizer sobre o meu sentimento naquele momento, toda e quaisquer postulação gestual que ela tivesse me dado naqueles poucos segundos entre o cigarro e eu, mas não valeria a tinta, tão pouco o papel, de modo que apoiei-me no volante e fixamente esperei o tapa que levaria, ou ao menos algumas tantas agressões que ela provavelmente tomaria posse.

Felizmente parecia mais entretida no trago de seu cigarro que em minhas palavras. Abriu a porta e com seu típico andar flutuante desceu. E eu? Minha cabeça não parava de perguntar.

- Ora o que diabos deu nessa mulher! – firmei minhas vistas sobre ela e quando dei por respondido ela já estava no bar. Como um cão latindo eu dei mostras da minha ferocidade, de maneira que nada infringiu nela.

-Ei! Espera ai! – Desci o mais rápido que pude e caminhei até o balcão onde ela se recostava. O jogo, o rádio, o bar, jamais teriam uma oportunidade de receber uma figura tão graciosa, todos se calaram, dos dois senhores barrigudos à porta, aos que estavam na mesa de bilhar sem camisa, do português herdeiro de seu balcão, ao velho que desligara o rádio. Em tom baixo para evitar uma cena eu prossegui ate ela dizendo: - Mas o que diabos você veio fazer aqui?

Não tardou sua resposta, esperava ate que tardasse, talvez fosse melhor:

- Comprando um presente pra você querido! O que mais uma mulher como eu poderia fazer em um bar como este não é? – Dizendo aquilo era como se apenas ela existisse no mundo como mulher, em um oceano repleto de homens barbados sujos de graça ou de tinta de banheiros.

- Não precisa me dar nada, só volte pro carro. Isso não é lugar pra você.

Ela sequer me ouviu, virou ao dono da espelunca pediu uma garrafa de uísque vagabunda, duas de conhaque, e uma água ardente que reluzia na prateleira. Estarrecidos, todos ficamos, mas especialmente o português, que imagino eu jamais vira de uma mulher tão jovem uma fome por álcool tão impressa. – São cem Cruzeiros madame. – Ora, vejam só. Ela me pagando uma bebida. Aquilo quebrou-me mais as pernas do que a idéia do presente em si. – Senhora, são cem cruzeiros, vai pagar ou o senhor que vai? – Aquilo me gelou um rim, certamente ficaria sem ele se não resolvesse isso, contudo, a impulsividade dela era notória. Maior do que a de um boxeador.

Retrucou:

- Mas só cem? Acrescente então, por favor, mais quatro maços e cigarros e duas fichas de bilhar.

Como assim duas fichas de bilhar? O que essa mulher queria com isso eu não saberia te dizer, mas sempre os fatos se mostram melhores narradores que eu. Tão pasmo quanto eu estava o bar e seus moradores, era surrealista demais para as mentes atrasadas daquele lugar, até pra mim soava como Mata Hari fazendo jogo duplo para o pentágono. Pedidos atendidos, novo preço estabelecido e uma pergunta no ar. Quem pagaria a conta?

domingo, 11 de janeiro de 2009

Noites de Cabíria (Parte III)

Do estalar das pedrinhas de gelo, ao tic tac do seu isqueiro, não precisava de muito. Olhos negros, olhos negos o que seria de mim sem um par? Pedi imediatamente ao garçom duas taças de seu melhor champagne. Afinal despíamos ali, de todas as manhas perdidas em uma cama sozinha. Despedíamos absolutamente dos boleros de fossa, da emoção deixada em um cinzeiro cheio, entre garrafas vazias para mais um dia de lamentável trabalho. Como era de se esperar ela precisava aquecer a boca, e como proibir o que é inevitável? Como censurar o que de tão absoluto, pede-se a presença. Apanhei dois cigarros ao mesmo tempo. De modo que não me importava, se eram filtros brancos ou vermelhos. Apenas ali estava eu, meu maço e seus lábios. Busquei meu isqueiro, fósforos, ou qualquer pedra que lascada fornecesse fogo. De fato não tinha e êxitei, mas humildemente pedi seu isqueiro, afinal todos aqueles tic e tac’s soavam muito mais do que um puro convite.

- Por favor. Poderia me ceder seu isqueiro? Acabei deixando os meus fósforos em casa. – Claro que minha desculpa não iria ser levada a sério, contudo, pouco importava ali. Queria de fato fumar, os pulmões a todo vapor questionavam a integridade moral do meu corpo.

- O meu? Respondeu ela, de maneira que quando vi, coloquei-me a postular: - Sim os seus, de quem mais?

Ela levantou gentilmente, apanhou os cigarros da minha mão, caminhou elegantemente até o garçom, sorriu. Em uma ode à Afrodite, ou qualquer mulher divinamente fatal os tacos abriam alas à seu carisma. Dos dentes fixos na boca, e uma aparência quase milenar, não se poderia ao menos insinuar uma recusa. Pediu-lhe o isqueiro, que não mais do que poucas notas custariam em qualquer tabacaria respeitável. Acendeu os cigarros e deu-lhe as costas. O garçom num misto de surpresa e gagueira não ousou pedir de volta o artefato. Provavelmente olhará mais o formato da moça do que o que continha em suas mãos. A elegância precede o crime.

Retornou como foi. Elegantemente despida de moral, soterrando qualquer provável fio de misericórdia divina em minha alma, e não seria o que talvez fosse apenas um descuido que acumularia em mim a repulsa à aquela fonte inesgotável de saber feminino.

- Assim está melhor, querido? – Que voz suave. Entonação perfeita, cigarros acesos e gosto de desejo pela boca. Antes que eu pudesse falar mesmo um obrigado, retornou avassaladora entregando-me aquele isqueiro de poucos níqueis: - Pronto! Agora você não pode se queixar de não me fornecer um cigarro.

- Como assim? Esse isqueiro é daquele sujeito, não seria de bom tom sair com ele. Imaginou o escândalo que seria se ele pedir de volta? – Como de fato isso poderia me afetar eu não sabia, mas também não queria provar disso. Tinha uma redação inteira que ouvia de mim pontos sobre a conduta moral política do país. Não seria interessante deixar isso de lado. Contudo me sentia extremamente boçal com aquele sermão de avôs. Mais do que depressa segurou em minhas mãos, e o calor de sua pele certamente descongelaria qualquer padre orando em latim.

- Meu querido, eu não pedi pra ficar com ele. Mas o Garçom também não me pediu de volta. Brindemos, fumemos e caminhemos até meu automóvel. Esse hotel por mais delicado e acolhedor que seja não é capaz de nos fornecer muitos momentos inesquecíveis. Sabes guiar?

Que tipo de garota teria um carro, me pediria para guiar em sã consciência, por mais moderna que fosse? Até então apenas grandes artistas, que estávamos acostumados a ver nas matinês guiavam seus próprios carros, em uma realidade tão distante da nossa, que eu não via absolutamente nenhuma gota de razão naquelas palavras. Obviamente, também não êxitei em dizer sim. Seria mais agradável ir motorizado que caminhando em uma noite com pouca brisa. Aquele encontro realmente, não seria o mesmo de outros memoráveis com garotas de reputação duvidosa, mais tão acolhedora como mães em trabalho de parto. Entretanto, dada a modernidade da situação, os goles de champagne, a ansiedade profunda, e a total face do meu estar, poderia eu vislumbrar um futuro com aquela mulher. – Certo! Vamos ao carro. Há tempos não guio, mas não deve ser nada que nos traga preocupações.

Descemos do bar, caminhamos com a imponência que eu jamais havia provado antes. Passo a passo, de braços dados. Tão preciso quanto o horário de um trem britânico, atravessamos o saguão, até que o manobrista entregasse suas chaves. Ela apontando para mim como se fosse eu o príncipe com sorte, o inglês refinado que jamais partilhou de baixas rodas, da cachaça ardente na garganta seca, indicou quem de fato tomaria as mãos sobre o volante. Mais alguns passos, e lá estava. Completamente solto, entre quatro rodas, que o faziam flutuar. Os tons vermelhos e negros, entre a lataria e o estofado, as linhas circulares e o aro reluzente de suas calotas, a energia que pulsava dos faróis como se a vida fosse apenas uma convenção de Deus para você possuir um demônio sobre rodas, e a absoluta magnitude do contorno do chassi, ardentemente captaram minha memória Hollywood-ana. Sentar-me-ia ali, como o sultão, o magnata do petróleo, o abastado e novamente criaria certamente em minha memória, mais uma velha imitação de Clark Cable. De modo que mesmo tendo todos aqueles sinais de euforia nos pulsos, sentando ao confortabilíssimo acento, indaguei a procedência do veiculo. Como alguma mulher que não pertencesse a alta roda teria um carro como aquele, e por que se era de tão fina estirpe, mandaria uma carta convite, à um fracasso como eu, que longe passava das colunas sociais. A resposta veio crua. Em tom de deboche, sacramentando qualquer duvida sobre a existência de Deus.

- É roubado. Simplesmente era de alguém e agora é meu.
- Roubado? Como roubado? Você está brincando com minha cara não é?
- Não, jamais faria isso com você meu querido.

Impressionante a qualidade de paz de espírito que ela trazia, mesmo sob tais circunstancias. Mesmo que em absoluto furtasse a moral do ar de qualquer coroinha. Não causava sequer um olhar de repulsa, pelo contrario, tais assertivas apenas contribuíam para o espanto geral da nação. Se Getulio ainda fosse vivo, certamente compilaria ali uma lei marcial para todas mulheres do mundo, enquanto Prestes, bom Prestes não faria muito. De modo que coloquei em mim a responsabilidade de lhe enviar à normalidade e realidade das leis de direito.

- Escute querida! Eu não posso dirigir um automóvel furtado! Não é certo. É como casar-se com uma freira. Responda-me como eu poderia guiar para você assim?

- Ora, é simples! É como um carro comum, com a primeira, segunda, terceira e quarta marcha. Você se sairá bem.

Como um tiro certeiro no crânio de um animal. Senti, vi, e ouvi, e devo dizer que apenas por sentir, já me causava um grande alvoroço na espinha.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Noites de Cabíria Part II

"Quando o cigarro declinará da boca, e o teu esboço não surgirá de um talvez."


As versões dos fatos não são abruptas, tão pouco propõe um intenso saber do pisque humanista. Onde os fracos não teriam vez eu me via ponto os sapatos para fora, os cabelos a esquentar idéias e a tosse a cuspir meu coração. A única razão de fato era estar a espera. Primeiro de uma estranha. Depois de uma fábula, um baile, uma invenção, ou seria uma composição? Assim que os demônios chacoalhem meu espírito e brotem à sua imagem e semelhança, estaria eu futuramente a escrever livros e obituários. Nada relevante até aqui.


Tipicamente impessoal é o saguão de um hotel. Olha-se para todos os cantos, e sempre soam como iguais. A imparcialidade dos objetos soltos em paredes foscas como se fossem suspensões que nunca deixaram de estar ali, junto à um carpete felpudo em uma variação de branco. De modo que também não se pode esperar muito dos funcionários. Sempre com sorrisos maliciosos, textos feitos, como uma bossa nova revisitada, inevitável deixar-lhes as moscas. Brincar com o primeiro cão sujo que cruzar à frente, ou afagar crianças de estranhos apenas para sentir um pingo de calor humano. É isso ou o alcoolismo.


Já aproximava-se da hora combinada, quando pousei meus olhos nas escadas, e assim como uma raposa impõe seu feitiço fitaram-me dois pés a descer e embevecer a luz. O longo vermelho planava como uma folha solta no outono, a entrada que somente uma rainha poderia ter. E teria, de modo que movi meu esqueleto sem pestanejar. Os sapatos grunhindo nos meus pés cansados de esperar, e a estranha sensação que valeria cada centavo. Algum dia diria "Que você é como um furacão!". O brilho nos olhos inevitável, o suor frio, entre a imaginação fértil de como seria por baixo de tantos véus. Os rumores apenas tonteavam, argumentavam contra meu córtex. De maneira que me colocava como um jovial velho febril. Ela a musa, e eu o compositor. Entre tantos passos não poderiam caber melhores palavras. ,

Os sapatos vermelhos cintilantes contrastavam com as unhas perfeitamente desenhadas, os olhos negros irrigavam os cabelos lisos negros, e só conseguia imaginar o sabor de seu beijo. Desejo, carnalmente abduzido por um copo de uìsque posto para mim ao balcão. Certamente teria de molhar meu bico para ter forças de encarar a multidão com um ser tão acima de minhas capacidades físicas. Como caminhar no escuro se houvesse luz. Ou fantasiosamente, como voar em pleno mar, com os pulmões cuspindo fogo. De fato os meus estavam. Mas não planejava matar ninguém. Acho que nem mesmo poderia matar alguém, era pacato, tímido, e nada simpático.

O entardecer já havia postulado seu tom à algum tempo, uma brisa árida percorria o saguão, e ela estava totalmente envolta em minha presença. Um drink para completar o inicio do primeiro encontro, em copos distintos tudo pareceria mais tranquilo para mim, de maneira que um trago não poderia cortar mais minha garganta, que já não estivesse cortada, ou o ar completar minhas vias aéreas amais do que já me inundara. Ao bar, onde os ricos sempre completam taças de Martinis, os pobres jamais entram, e os preços arrematam todas as carteiras. Não me importa. Importa é o par de estar com ela. A imparidade só se especifica no singular, e isso já sabemos que ela era. Mesmo que o álcool dragasse meu espírito, e certas pílulas desordenassem minha mente, o Texas ainda seria o Texas, e a Riviera francesa ainda estaria lá. Nada existe a ponto de tontear mais. Nada poderia extirpar alem do que meras convenções de tempo e espaço.