quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Just My imagination...

Quando os tubinhos negros entravam facéis entre braços que jamais gesticulavam tão abertamente em frente à um espelho, como você se sentiria? Completamente desconhecido, como uma pedra rolante, como um trilho esquecido de um passado de Glória. Um cigarro pela metade, uma foto três por quatro, poucas e boas companhias ate estar novamente em direção contrária, até completar seu nome. Você nunca dá a volta na esquina, onde os demônios e palhaços são mais diplomáticos que você, no seu coração descobre onde está aqui, e tudo, tudo como uma velha roleta russa, como um traumático arremedo de uísque com guarana no copo. Devora os humanos e se recusa a ter algo à perder quando sua invisível cabeça conta alguns segredos. Ao menos entendeste, ao menos uma cuba libre um jazz Barato, um gordo imitando Elvis, e muitas e muitas luzes na sua cidade, você nunca satisfeita.

Você pode olhar pro norte, ou o sul ser a moradia, sempre vai mutar, guiar suas proprias centelhas de esperança dentro de vidros com tampas ásperas, nunca vai se ver brilhar na garganta do diabo, ou nas pedras "sagradas" dos pirineus, vai voar além do albatroz, acima das nuvens negras e das cores obsoletas. Como tantos e tantos mendigos que pedem ajuda, iremos todos juntos embrulhados em jornal, cavar nosso esguio destino na extensão além-mar, ouvir de bobos, sonsos os deverás, e como sempre tarde acordar para em algum beco urinado encontrarmos Dylan, enquanto os clichês e a beleza deles soltar imagens cinematográficas de quinta, enquanto a cabeça funcionar, durante uma noite mal dormida ou uma bela tarde chuvosa em mais uma cidade aquecida, com o asfalto mais quente que qualquer menina.

Não me deixe nervoso, não se faça de sonso, não troque o horrendo pelo amargo, não descreva esse lixo com exatidão, ou tão pouco ache nos detritos nossa salvação. É engraçado e desagradável, como tem que ser. Verde e molhado como meu cinzeiro, áspero e denso como um conhaque, suave e ordinário, quase biblicamente épico. A chuva passa e ainda se corre atrás das gotas, as criações tem nomes femininos como a imaginação tem o âmbito feminino, até o cheiro de uma rosa não permanece muito tempo, desapego.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Nostálgico Subterrâneo




Longos dias se passaram, varias noites encerraram e nada escrito... Alguma novidade teria de aparecer, e não poderia ser diferente. Ontem encontrei, andando sozinha sobre um oceano de memórias, uma peça escrita de sopetão, onde a garota esfregava entre os dentes a chave de todos meus defeitos, talvez só mais um reflexo do brilho constante de seus olhos, talvez a irritante verdade em seus cabelos curtos, e a minha incapacidade de levantar ao cair. Crônicas, velórios, mudanças, quem aguenta tantos acontecimentos? A prolixidade atingindo antes o que somente a excitação alcançara, de modo que é muito fácil interpretar tais constantes como mais uma infeliz ideia.





Dentro do nostálgico, tudo permanece ardente, dentro do próprio subterrâneo, quase sempre dá pra viver sem se preocupar com a textura extra de teus muros. Mas não se engane, é um mundo louco, cheio de minúcias, cheio de papiros apócrifos, sintetizadores e domadores de leões. Acima de tudo, toda noite aponta como mais um pressagio de um dia malfeito, dias nublados requerem cigarros, e teu estômago já clama por socorro. A polícia bate a porta, e te retira os únicos pedaços de sensibilidade que lhe resta, chamar alguém pelo primeiro nome se tornou algo tão natural quanto o sexo, e enquanto isso você assiste teus pelos crescerem, imovél, tão figurativo como uma peça qualquer disposta na sala de sua mãe.





Qualquer cretino sobrevive à isso, qualquer bastardo aponta um rumo e um caminho livre de um beco sem saída, apontando pra sua infância, sua adolescência, sua juventude, com o frescor do serviço prestado, dever comprido, ou seria "cumprido demais". É bem verdade que sempre olho pra trás com muito respeito, saudade, banzo, como um velho advogado morto de fome, olha para teus dias de acadêmia. Nostálgico Subterrâneo, sempre acolhedor, distante das noites em claro.





É sim meu caro, abrupto como o pouso de um albatroz, cheio de clichês, dementemente sorri sem nenhum dente na boca, sobre qualquer mesa de botequim, sob qualquer objeto ou dejeto, acima de qualquer forma digitalizada de amor, inquieto como qualquer pequena coisa que te deixa só. Outra vez os clichês se destacam e os arquetipos remontam sua morada...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Exílio Espiritual e Normativa Artística



A Normativa


Um bourbon, comprimidos, papéis espalhados sobre o chão. Uma busca incessante de paz e um vicio de produzir, ganha-se olheiras, perde-se quilos, atravessa qualquer cordilheira afim de estudar mais um ritmo, pulsa, ou nem tanto, dorme ou se deprime, custa a entender o sentido de tamanho desgaste físico vindo de uma pequena linha mau escrita, uma palavra que não cabe, gera insônia, a insônia por sua vez clama pelo cigarro e este traga o gosto do bourbon, os comprimidos apenas consequência, os papéis ficam sem sentido, a busca pela paz um artificio para justificar o vicio, as olheiras sintomas da perda de quilos, a cordilheira uma metáfora da dificuldade de se encontrar o ritmo, o pulso, esse apenas um impulso do desgaste físico, que torna a normativa artística imposta novamente pelo artístico como um ciclo.


Apenas alguns minutos são necessários para tanto, apenas uma migalha já encaixota uma terrível lembrança. A solidão não seria meramente algo comercial se houvesse um simbolismo maior do que apenas um cachorro roendo o proprío rabo, as fixações, e a pluralidade imperativa, somente mais uma distorção de cores vivas. O artístico voltado pra dentro de si, troce e distorce qualquer pluralidade, procurando qualquer pingo obscuro de genialidade costuma desviar seu foco de sua arte, para a negação de sua propría originalidade e as migalhas derramadas remontam "Sonhos dourados enchem seus olhos, e sorrisos lhe acordam quando desperta...", os arrepios e as lagrímas que fitam teus olhos decolam embaraçando seu caratér e transpondo os acordes ao piano.


O Exílio


Arrependido e enjaulado em suas conclusões, tende ao desespero faminto por quantidades, abandona a qualidade e estoura seus tímpanos, chega ao ápice da infâmia destronando seus mitos e arquivando os livros. Basta! Reúne a pouca dignidade que lhe cabe, releva a um segundo plano a moral artística e embarca na busca de uma pureza restrita dentro de si. Dias quentes e tranquilidade austera ludibriam e confundem, descobre novos prazeres e novos amores, atribui qualidades agora com uma solitude profunda, profana seu corpo e convoca o coro dos pescadores hebreus à mais uma jornada. Deita-se a noite no leito de um rio, advinha as estrelas e argumenta com Cristo, salvador ou não, em você ou não. Acaba descobrindo um novo sentido e uma nova super nova brotando em seu umbigo.

Arrepia-se e volta à mesa de estudos, transforma e destrincha, convoca os atabaques e rodas de santo, arremata com o terreiro, e segue as determinações do preto velho, e as guias e contas do caboclo saravá. Eis você de volta, a luz remonta suas magoas, e assume a extensa saudade.


Foto: Reading Woman - Renoir

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Plexus, Nexus, Sexus...

Toda sabotagem tem seu preço e não foi diferente à Marta. Mulher de trinta e poucos anos, artista plástica de uma vernissage somente, arquétipo de si mesmo, criadora de obras como "Hoje estaria melhor sem você", "Real me", "Samba, Jazz e provocações", enfim todos desconhecidas. Resistente em si mesma, alheia à qualquer visão de euforia jovem e uma completa cretina arrogantemente idiota. Calcado em suas próprias pás, pinceis, espátulas, e cacos de vidro, estava mais uma vez calada compenetrada em uma escolha que julgava ser de simples acesso, um novo ritimo, uma nova pincelada em uma velha e acabada parte de tela. Suas roupas sujas de tinta, seu odor cada vez mais vulgar, uma garrafa de Bourbon sob a mesa, e sua taça já pela metade compunham o ambiente de sua intimidade crônica neo buarqueana, outrora coberta, agora desgastada. Batem à porta. Marta com suas passadas lentas, quase paradoxais junta os pedaços de sua memória e à abre, era Carlos um rapaz de vinte e poucos anos, cheio de efusão, euforia sonora e acima de tudo uma ansiedade mórbida pelo novo, novo que uma vez velho já não cabe, somente à insônia. Com sua calça Jeans, seus cabelos lisos nunca escovados, a pele rubra e macia, olhos amendoados, na boca um cigarro, e sua calma, compunham a imagem apocalíptica. Gostava de parecer diferente como um modelo de lixo cult, indeciso sempre, cíclico com o humor, de temperamento árido e sagazes corrupções à maiores.

Namoravam a mais ou menos um ano, o que diziam seus amigos, ter sido a melhor escolha que um mendigo e um indigente poderiam ter feito, debatiam e se amavam, caiam no sono e voltavam à disputa, uma ingenuidade mutua de afeto circundava sempre as conversas mais brandas, entretanto despertavam viris vinganças, e ao abrir a porta, Marta reviveu junto à Carlos mais um de seus momentos irreais de maturação.

Olá, como você está? - Disse Carlos invadindo a casa, sem um beijo ou um olhar direto.

Vou bem obrigada! E o que me trás a honra de vossa visita Carlos? - Fechando a porta, cabisbaixa, e decepcionada com a ordinária presença.

Carlos só lhe trás inquietações, já que não ligava ou dava sinais de vida a mais de quatro dias. Virou-se detalhadamente fitando-o a frente: - Vamos entrando não é?

Descomposto de sua entrada triunfal e atordoado com as falas entrepostas de Carlos, caminhou ate o sofá e sentou-se reorganizando e agregando uma possível melhora de ares: - Você parece nervosa hoje, aconteceu alguma coisa?

Não! Estou bem, cheia de paz pra vender, quer comprar? - Caminha até a janela, abre violentamente, pega seu cigarro e acende como se fosse à comunhão de Marta. - Engraçado você aparecer hoje, nem é domingo: Balbuciando sua insatisfação.

Respirando fundo, tão fundo quanto um mergulhador sem seu escafandro, coloca as mãos entrepostas: - Me dá um cigarro?

Marta dá poucas passadas atravessando a sala ate o sofá, a cada passo uma imagem lhe possuía os olhos, a respiração falha e a impaciência de estar tendo aquela conversa, tornou-se uma penitencia, onde a promessa nem fora exercida. Entrega mudo o cigarro aceso, e dá as costas. Naquele instante Carlos outrora despreocupado sentia que a calmaria de sua vida estava a um milímetro de suas mãos, se expressasse as palavras corretas, teria uma Marta dócil como feltro. Formulou mil coisas, e quando achou que estava correta, casualmente soltou.

- Marta qual seu problema? Desde que eu cheguei você parece só me dar estocadas ao invés de esboçar felicidade pela minha presença. Venho aqui todo feliz e eufórico te ver, e você carrega em si esse fardo horrendo. - Da um grande trago no cigarro, bate a cinza com seus pequenos dedos de esmeralda e no alto de sua onipotência criativa prossegue: - Porra eu me mato pra estar com você, por sentir saudade, por sentir sua falta! Porque se depender de você, morre dentro desse apartamento cheio de ilusões cores e conhaques sem nem respirar ou tragar o ar de fora. Nem pra me ver você presta mais!

Enquanto Carlos proclamava sua republica, tal qual Antônio conselheiro, Marta ouvia, seu coração a mil, suas mãos tremulas de bebida e ansiedade, secaram e agarraram-se à seus princípios mais e mais densamente e quando enfim os calafrios de seu corpo ouvindo aquelas palavras reverberaram em seus ouvidos, ela estava pronto para cegamente tornar-se um Mártir de sua monarquia amorosa. Entendeu que suas ações eram completamente medidas por Carlos sem qualquer preocupação de acertos, assim como as dele à ela, lembrara de frases antigas, e brigas recentes, lembrou-se de seus cuidados e zelo, e das palavras proferidas à ela de amor e afeto, justificando e amando suas ações, e agora apenas um de seus defeitos bastara para por um fim melancólico e dramático à neurose coletiva e inebriante de ambos. Quando deu por si estava soltando.

- Como você tem a ordinária razão dentro de si? Acha que está coberto de razão, que não tem seus defeitos e que por vir aqui isso lhe faz algo extraordinariamente amoroso? Mede minha paixão e minha fixação por você como mede papel higiênico, trata de minhas neuroses com desdém, quando às suas são relevadas e deixadas ao posto que devem estar em um casal, e se estou dizendo isso, não por gostar de ser grosseira, apesar de estar sendo prolixa e irritante, se tô agora lhe dizendo isso, é por honrar essa relação biblicamente como Abraão! - Descontrolada em seu motor interno, poderia ter a qualquer momento um AVC, estaria sendo justa consigo, e no alto de sua ingenuidade proferiu o golpe que o levaria à sua cicatriz mais densa e irreconhecível. - Você passa quatro dias sem ligar, sem querer saber se estou viva ou morta, e me vem com uma merda dessas? Porra! Para de olhar pro seu umbigo e achar que é perfeito só porque meia dúzia de vadias fodem com você e dizem isso! Como consegue ser tão egocêntrico assim? Se não saímos é por algum motivo, mas sempre tento compensar em outros, merda!

Assustado, desolado, com faíscas nos olhos, imaginando vir um tufão de agressões e lamentações, Carlos trouxe à tona todos os problemas inúteis e desajustes do casal. Com uma sessão de fortes e certeiras palavras: - Cala a Boca! Sua porra! Eu sou egoísta mesmo e estou em crise mesmo. E a culpa disso sabe de quem é? É sua, imbecil, você ate parece que tem transtorno bipolar! Esta aí reclamando de um monte de coisas, mas não me dá o espaço nem pra pensar, se me amasse na verdade, saberia esboçar uma compreensão que parece que não tem, e não passa de uma frustração que despica em mim cretinamente como um objeto de decoração! Figurativo, sem sal, tosco e imoral! - Levanta-se e batendo as mãos e enfatiza suas palavras: - Tô Indo embora e foda-se! - começa a juntar suas tralhas, Marta em um desespero só seu, o segura pelos braços, ocupa suas mãos da carne rija de Carlos: - Não vai não! Você agora vai escutar e vamos resolver essa desgraça!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Café, Dylan e cigarros...


Que desejos são esses que aparentam o juízo final? Onde todos os demonios se escondem dentro de uma caneca de café. milhares de notas por segundo, um trago profundo, vários conhaques, bourbons... À flor da pele, quando os riscos dosam entre si partes ínfimas de um intimo misterioso. Novamente João Gilberto se via ali, sem jogar futebol, sem amigos pra sair, sem Juliette, sem Cristhine. Fraco como galinhas d'angola, caindo como um zeppelin de chumbo, insaciável em seu eletromotor, enfim. Óculos escuros Wayfarer no rosto, uma camisa gola role, calças justas em meio à uma bota cano curto preta simples, segurava em uma das mãos seu cigarro, o único toque intimo que teve em muitos dias. Sobre a mesa, sua xícara de café forte, tão negro e encorpado como ele nunca poderia ser, além de um livreto sobre as ruas históricas da cidade, entre-aberto, com paginas marcadas, que nem mesmo o Sr Gilberto saberia responder o por que. Sentia-se um misto de Ss com o seu caboclo guia, era como se colhia lírios e junto destroçava qualquer resquicio de afeto que já tivera. Foi quando Margô apareceu, trazia consigo um sorriso inebriante, que entontecia a mente pouco sã de qualquer infeliz, cabelos longos, pele rosada, saudável. Seu vestido de tão leve e suave parecia deslizar rodeado pelo vento, aguardou uns instantes por sua mesa, e sentou-se.


A troca de olhares tornou-se uma espécie de jogo, onde nenhum deles parecia se preocupar em ganhar, a consistência estava absurdamente jogada para fora desse dialogo, apenas pareciam se preocupar em visões, jamais palavras. Para que iriam querer palavras, se absolutamente tudo que gostariam de dizer estava implícito nos olhares, um misto de prazer e angustia tomava o peito de cada um, a incerteza e a falta completa de segurança paupavel assustava ao ponto de não saberem onde colocar as mãos, não queriam algo paupavel, estavam preocupados demais para isso, pareciam como dois canários mudos, nem um pio.


A avaliação do espaço, do carpete aveludado até os poucos quadros colocados na parede, não era mais uma abstracção, viviam agora e se interessavam agora a nada mais que aqueles poucos segundos em que cruzaram os olhares, somente seus olhos eram capazes de expressar o intimo do imaginário de cada um, Margô, absoluta em seus pensamentos, e Gilberto, omnipotente de si. Quando aquele momento antes de se tomar coragem e ir ate a outra mesa chegou, ambos estavam tão seguros de si, tão radiantes de que ali encontrara a catalisador de seus motores que já não se preocupavam com suas mazelas, com os seus banzos, nada mais ligava. A sensação presente não mais de saudade de si mesmo, tomava o corpo como em um campo de batalha, centímetro à centímetro, como uma luta entre exércitos, travada de homem à homem, e sabiam que quando explodisse a ultima bomba seria o momento de êxtase, onde nada mais poderia parar.


Tocava Dylan, Girl From The North, os acordes foram pulsando ainda mais forte nos ouvidos já surdos à todo o resto, a voz nasalada de Dylan tornara o conversor na linguagem dos dois, a cada verso que se passava era apenas a musica e eles, eles e as mesas, as mesas à alguns passos de suas pródigas lições. Dylan cantou naquele dia como nunca, sentiram estocadas no peito e a luz de sua canção já não havia mais mesas ou passos entre as suas emoções, quando entrou Jonnhy Cash o brilho no olhar se transformara em lágrimas, as mãos geladas em fortes pás, pelas quais cavaram fundo e mais fundo sua satisfação, Cash ultrapassou os limites de sua voz naquele dia, com o coração na boca, transformou Dylan, Margô e Gilberto em expectadores de seu amor por Juner Carter. Com Girl From The North o êxtase atingiu limites que a excitação não vê, limites que cigarros e seus tragos apenas faziam imaginar.