terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Plexus, Nexus, Sexus...

Toda sabotagem tem seu preço e não foi diferente à Marta. Mulher de trinta e poucos anos, artista plástica de uma vernissage somente, arquétipo de si mesmo, criadora de obras como "Hoje estaria melhor sem você", "Real me", "Samba, Jazz e provocações", enfim todos desconhecidas. Resistente em si mesma, alheia à qualquer visão de euforia jovem e uma completa cretina arrogantemente idiota. Calcado em suas próprias pás, pinceis, espátulas, e cacos de vidro, estava mais uma vez calada compenetrada em uma escolha que julgava ser de simples acesso, um novo ritimo, uma nova pincelada em uma velha e acabada parte de tela. Suas roupas sujas de tinta, seu odor cada vez mais vulgar, uma garrafa de Bourbon sob a mesa, e sua taça já pela metade compunham o ambiente de sua intimidade crônica neo buarqueana, outrora coberta, agora desgastada. Batem à porta. Marta com suas passadas lentas, quase paradoxais junta os pedaços de sua memória e à abre, era Carlos um rapaz de vinte e poucos anos, cheio de efusão, euforia sonora e acima de tudo uma ansiedade mórbida pelo novo, novo que uma vez velho já não cabe, somente à insônia. Com sua calça Jeans, seus cabelos lisos nunca escovados, a pele rubra e macia, olhos amendoados, na boca um cigarro, e sua calma, compunham a imagem apocalíptica. Gostava de parecer diferente como um modelo de lixo cult, indeciso sempre, cíclico com o humor, de temperamento árido e sagazes corrupções à maiores.

Namoravam a mais ou menos um ano, o que diziam seus amigos, ter sido a melhor escolha que um mendigo e um indigente poderiam ter feito, debatiam e se amavam, caiam no sono e voltavam à disputa, uma ingenuidade mutua de afeto circundava sempre as conversas mais brandas, entretanto despertavam viris vinganças, e ao abrir a porta, Marta reviveu junto à Carlos mais um de seus momentos irreais de maturação.

Olá, como você está? - Disse Carlos invadindo a casa, sem um beijo ou um olhar direto.

Vou bem obrigada! E o que me trás a honra de vossa visita Carlos? - Fechando a porta, cabisbaixa, e decepcionada com a ordinária presença.

Carlos só lhe trás inquietações, já que não ligava ou dava sinais de vida a mais de quatro dias. Virou-se detalhadamente fitando-o a frente: - Vamos entrando não é?

Descomposto de sua entrada triunfal e atordoado com as falas entrepostas de Carlos, caminhou ate o sofá e sentou-se reorganizando e agregando uma possível melhora de ares: - Você parece nervosa hoje, aconteceu alguma coisa?

Não! Estou bem, cheia de paz pra vender, quer comprar? - Caminha até a janela, abre violentamente, pega seu cigarro e acende como se fosse à comunhão de Marta. - Engraçado você aparecer hoje, nem é domingo: Balbuciando sua insatisfação.

Respirando fundo, tão fundo quanto um mergulhador sem seu escafandro, coloca as mãos entrepostas: - Me dá um cigarro?

Marta dá poucas passadas atravessando a sala ate o sofá, a cada passo uma imagem lhe possuía os olhos, a respiração falha e a impaciência de estar tendo aquela conversa, tornou-se uma penitencia, onde a promessa nem fora exercida. Entrega mudo o cigarro aceso, e dá as costas. Naquele instante Carlos outrora despreocupado sentia que a calmaria de sua vida estava a um milímetro de suas mãos, se expressasse as palavras corretas, teria uma Marta dócil como feltro. Formulou mil coisas, e quando achou que estava correta, casualmente soltou.

- Marta qual seu problema? Desde que eu cheguei você parece só me dar estocadas ao invés de esboçar felicidade pela minha presença. Venho aqui todo feliz e eufórico te ver, e você carrega em si esse fardo horrendo. - Da um grande trago no cigarro, bate a cinza com seus pequenos dedos de esmeralda e no alto de sua onipotência criativa prossegue: - Porra eu me mato pra estar com você, por sentir saudade, por sentir sua falta! Porque se depender de você, morre dentro desse apartamento cheio de ilusões cores e conhaques sem nem respirar ou tragar o ar de fora. Nem pra me ver você presta mais!

Enquanto Carlos proclamava sua republica, tal qual Antônio conselheiro, Marta ouvia, seu coração a mil, suas mãos tremulas de bebida e ansiedade, secaram e agarraram-se à seus princípios mais e mais densamente e quando enfim os calafrios de seu corpo ouvindo aquelas palavras reverberaram em seus ouvidos, ela estava pronto para cegamente tornar-se um Mártir de sua monarquia amorosa. Entendeu que suas ações eram completamente medidas por Carlos sem qualquer preocupação de acertos, assim como as dele à ela, lembrara de frases antigas, e brigas recentes, lembrou-se de seus cuidados e zelo, e das palavras proferidas à ela de amor e afeto, justificando e amando suas ações, e agora apenas um de seus defeitos bastara para por um fim melancólico e dramático à neurose coletiva e inebriante de ambos. Quando deu por si estava soltando.

- Como você tem a ordinária razão dentro de si? Acha que está coberto de razão, que não tem seus defeitos e que por vir aqui isso lhe faz algo extraordinariamente amoroso? Mede minha paixão e minha fixação por você como mede papel higiênico, trata de minhas neuroses com desdém, quando às suas são relevadas e deixadas ao posto que devem estar em um casal, e se estou dizendo isso, não por gostar de ser grosseira, apesar de estar sendo prolixa e irritante, se tô agora lhe dizendo isso, é por honrar essa relação biblicamente como Abraão! - Descontrolada em seu motor interno, poderia ter a qualquer momento um AVC, estaria sendo justa consigo, e no alto de sua ingenuidade proferiu o golpe que o levaria à sua cicatriz mais densa e irreconhecível. - Você passa quatro dias sem ligar, sem querer saber se estou viva ou morta, e me vem com uma merda dessas? Porra! Para de olhar pro seu umbigo e achar que é perfeito só porque meia dúzia de vadias fodem com você e dizem isso! Como consegue ser tão egocêntrico assim? Se não saímos é por algum motivo, mas sempre tento compensar em outros, merda!

Assustado, desolado, com faíscas nos olhos, imaginando vir um tufão de agressões e lamentações, Carlos trouxe à tona todos os problemas inúteis e desajustes do casal. Com uma sessão de fortes e certeiras palavras: - Cala a Boca! Sua porra! Eu sou egoísta mesmo e estou em crise mesmo. E a culpa disso sabe de quem é? É sua, imbecil, você ate parece que tem transtorno bipolar! Esta aí reclamando de um monte de coisas, mas não me dá o espaço nem pra pensar, se me amasse na verdade, saberia esboçar uma compreensão que parece que não tem, e não passa de uma frustração que despica em mim cretinamente como um objeto de decoração! Figurativo, sem sal, tosco e imoral! - Levanta-se e batendo as mãos e enfatiza suas palavras: - Tô Indo embora e foda-se! - começa a juntar suas tralhas, Marta em um desespero só seu, o segura pelos braços, ocupa suas mãos da carne rija de Carlos: - Não vai não! Você agora vai escutar e vamos resolver essa desgraça!

Um comentário:

Érica disse...

Gostei bastante desse embora tenha coisas que eu acho q n entendi...rs vou ler os outros e te falo depois...

^^''