segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ashes To Ashes

Aqueles tempos eram sempre ariscos, os pontos sem nós de clima úmido, de pestes de ratos roendo todos e quaisquer restos. Faith no more! As imagens deste ser se profanavam sob qualquer vocalização próxima, e de nada haveria de vale tamanho esforço além de limpar seu nome, aquém de deixa-lo sobreviver em paz. Tanto para você quanto para mim, o sol batia à porta dele, o homem sem nome, o revogado, outrora atendendo pela alcunha de Senhor sabe tudo, senhor vingança, senhor não se meta, hoje dito e feito passado.

Cigarro matinal, leu suas noticias no jornal, café, aceleração, pouca expectativa e rumo ao sul. "Eis me aqui!", diria ele em bons dias, não que o pessimismo tomasse conta de teus dias, não que não buscasse sua reabilitação, apenas sem fé e pobres dos homens de pouca fé, ou não! Após uma lida nada prazerosas sobre seus poucos argumentos de defesa, arremessou o jornal, esboçou sua pequena raiva, e se preparou para o pior. Estava à caminho e vinha como um animal, cheirava como um animal, caminhava como tal. A única incerteza era de qual espécie seria. E estampado em suas primeiras páginas mau diagramadas, "Divisas não pagas, prega-se a moratória". Aquilo foi como ódio aos pulmões, cercado de todos os lados por contas a pagar, por contas a acertar, e cerrar os punhos não valia sequer a pena. Sabe se bem os porques. Bastara um dia de aposentadoria e milhares que o apoiavam e suportavam como endorsers virariam as costas. A faca devidademente guardada, o três oitão acolhido pela poeira dos novos tempos talvez, e somente talvez fossem necessários. Esperava que não, queria que não, e pôs se a um belo banho frio antes de enfrentar as ruas, afinal a caravana não poderia e nem deveria parar.

Vestiu-se de preto, como em um velório granfino. Óculos escuros em dias nublados apenas para manter as olheiras afastadas de quem poderia se interessar, e desceu para apanhar suas coisas, o restante que havia sido lhe entregue em caixas de papelão, sem sequer um bilhete, ou algo do tipo. Pensou alto "Belo reconhecimento hã?!", seu porteiro riu, e acalmou-se mais uma vez, entre tantas que já haveria arremessado a cabeça do infeliz pela entrada do edifício, pensou duas vezes. Aposentado, à isso sim, e talvez não fossem mesmo os dias de voltar-se ao velho sangue suga, ao velho bloodstain, ao velho cigarro reinado em seus olhos. Ponderações e nada mais. Os gritos de fora lembravam teus dias de matança, de rios de ódio brotando aos pulmões, de quando levou sua facada, de quando ficou preso por dias em um hospital sujo, sem sequer visitas conjugais. Belo sujeito, relegado à expectativas postas a prova, e na realidade ele não ligara à isso, a magoa fora corroida há tempos. Um dia não supre uma semana, e esse lema já era velho e sabido, de modo que seguiu, como seguiria agora. Pôs os ombros para trás, esguio, nada de vinganças, nada de não encarar os fatos "filhão", o vermelho dos lábios não seriam de sangue, e tão pouco de omissões mais, iria encarar de peito aberto a multidão louca por seu couro. Pedira ao porteiro infeliz para abrir a gaiola, e como um rato em uma, foi para fora. Vistas, luz e inferno.

A multidão eram só brasas! Eles realmente estavam preparados para o pior, convidaram até seus policiais para assistir o açoite. Aguente, o cheiro, aguente o desgosto de ter abandonado a carreira, aguente o dia nublado com quarenta anfitriões nada saudaveis meu senhor. Sabia que podia optar pela mentira, pela malandragem, pelos socos e pontapés, mas não, aguentou o enxame que se propagou, em poucos minutos já haviam lhe atirado pregos, pedras, ovos, e sessões de cusparadas nada coloquiais e a cada uma, por dentro se odiava, mas ao se limpar, percebera os fatos, os caminhos e o nucleo. O fusca que ainda o aguardara, atipico, não era um frango qualquer, não era alguém que não sabia receber porradas e devolve las ainda de forma pior. Não valia mais o esforço. Abaixou sua cabeça, tapou a boca com a mão de modo a acender seu lapso de momentos felizes em um cigarro, e colocou se a andar, mesmo que isso o fizesse lembrar de orelhas arrancadas, maratonas de trabalho árduo à sociedade, e tudo posto e deposto pela aposentadoria, pelas dores nas costas, e pelas divisas que não estavam claras ao banco. Ódio guardado hoje à elas, instituições financeiras. Seus passos, largos, procurando manter-se são em um universo de paquidermes imbecilóides, entrou no auto, e o piloto rodou. Não se sabia bem, se a cortina de fumaça vinha do carro, ou de fora. Asseava por não ser fogo literal aos pneus. Ande logo, tenho contas a prestar, fontes a secar e muito, mas muito chão para rodar, pensou. Mesmo que a imagem cite e beire o inapropriado, seu biografo saberia que aquilo era auto preservação do que lhe aguardara.

Em seu dialogo consigo, brotaram idéias, percepções, e mea culpas. Sabia que era ele e só ele o causador de tantos absurdos. Sabia que causara por se omitir perante os juízes, e não achar que iria se pendurar tão previamente. Erro, e de erros sempre se tem duas ou doze partes. Sagaz, poupou esforços agressivos, e propôs a si mesmo uma forma certa de se pagar as dividas. De se entregar aos mesmos senhores que lhe obrigavam à matar. E foi o feito. Foi o que já estava certo em fazer. Não iria se omitir, não iria deixar que manchas negras e nuvens turvas abalassem seus novos dias, se a verdade estaria dentro de uma prisão, capitalizaria, venderia o corpo para não ter mais que ouvir ou sentir se acusado por aquele enxame, que provavelmente jamais ouvira verdades na vida, e jamais saberiam delas. Nem todos tem colhões para um face a face, normalmente se corre dele, e noticiários, digitais, físicos sempre são cômodos. Colocou se a caminho de sua nova maratona, como garoto de aluguel, como garoto de recados, já sabia o que fazer. Nenhum tiro mais, e nenhum juiz mais teria como lhe propor isso.

As mãos tremulas, e o abdomêm ainda cortado, criavam mais desconforto do que encarar os fatos, e revoluciona los. Transpor à quem não é de César, o que é de César, sistema judiciário de merda. Os rabiscos em seu corpo quase que se soltavam, via os erros em cada pedaço de seu corpo, do paletó ao cabelo, de sua barba às frases que ele gostaria que ouvissem, e mesmo assim, mesmo transpondo sua raiva das mãos para o cérebro, conteve se. Isso acaretaria muito mais do que vingança, e não era ela que ele procurava, não queria encontra la na marra. Até mesmo os litros de café lhe diziam o mesmo, as memorias e os serviços, bom isso cabia a ele saber que tinham sido bons, eficientes, e árduos, prazeirosamente árduos, Senhor guarda costas!

O dia, e o caminho sinuoso até o tribunal se misturavam em odores, fumaça, gritos na multidão, nada pop, nada mod, nada funk. Apenas palidez reversa, e suas gloriosas lembranças. Se teria de haver um abate, que houvesse então. Não era homem de se ocultar, de se poupar de rasgos, e mesmo aos que lhe propunham serviços pardos, mesmo esses desaparecidos, tinham seus grandiosos feitos, e não haveria de negar. Mesmo na tortura que estavam provocando ao se colidirem com suas proprias palavras. Senhor destino não mais, as armas estão guardadas, so a face a bater, a minha face. Pequenas vitórias vem aos tempos, e a abrupta vontade de se referir se à elas com mais tempo, não era mais encorajada. Não tinha tempo, apenas um aviso, apenas dores nas costas, apenas dias esquecidos e não validados, como este mesmo argumento jamais será por eles. Desceu de seu glorioso fusca, em uma calçada destinada à portadores de necessidades especiais. "O caralho, são e continuarão a ser alejados" pensou, e como de praxe foi abordado por isso.

- Ei! Senhor! Não vê a placa? _ gritou o segurança.

- Vejo, bem distinta não?

- E não sabe ler então? Tire esse carro daí por favor _ Quanta educação de um servidor público, incompetente quase sempre, rancoroso quase sempre, e normalmente nada educado com os populares. Nunca subestime o poder de um terno!

- Sei sim, mande guinchar. _ Caminhei como um junkie, trôpego, ansioso, cheio de vitamina B para queimar às portas de um grande funeral. Crianças deveriam cantar mais, e notoriamente "Be Aggressive" seria um bom tema.

O sabor do vento corria em meus dentes, tão claro quanto o ar absurdo de nunca querer poupar esforços. Os dons, e as praticas, juntos. Aguardando à hora do julgamento que já começara, terminar. Não iria se omitir, não iria se poupar, e provavelmente apenas cumprir a pena atribuída. Ser preso nos dá tempo para pensar em o que estamos errados, é um bom meio de pensar em liberdade futura. Já escapei de tormentas fortes, que não me pegaram tanto quanto quando se está aposentado. Reduzir toda essa atmosfera ao que convém não é uma escolha muito sábia. O cronometro anseia pelo meu nome dito em alto em bom som no tribunal. O meu silêncio oportuno de agora certamente é o mais eloqüente dos discursos. Das cinzas as cinzas vamos lá!


"Estado contra Senhor certeza, décima segunda vara".

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