quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Hotel Liberdade Check In.


Estávamos todos lá. Obsoletos, trancafiados em salas, quartos, saguões e entre-faces, quase desdentados, atolados em crack e satisfatoriamente esquecidos. Sem as lágrimas que aos olhos de vós brotam, sem a moralidade dos porcos que por nós sentinelam. Cigarro a cigarro, só nós enxergávamos, nas soluções de tragos e goles oalgum brilho, de modo que o brilho que importara nos teus olhos seria acometido, por risos, cervejas, e desilusões. Dentre tantas, as salas e escritórios estariam cheias, desoladas. Cheias de não começarem suas noites com o balbuciar vermelho dos lábios, cheias de não sentirem os ápices da forma, da lucidez, do três oitão colocado em fronte a face. É meus caros, a moralidade custa muito caro, e muito era a barganha dos infelizes. Não mais estaria preso à sua jugular.

As duas faces, a coroa da moeda, o cruzamento das almas que não descançam, a fé que se perde, e a luz que se esvai. Sim todos os hipócritas feito eu, todos os de coração fechado como os nossos, todos eles eram bem vindos e uma vez vindos, eram oriundos de ser quem são. Os horizontes tocavam seus dedos, onde a raiva e a ira, apenas iriam e ririam de tanto fomentar mais os silêncios, mais clarões obscuros, e sempre mais gritos no seu silêncio. A rima era velha, e as frases dignas de Erasmo. A porrada e o sangue, a marca dele no chão, o rosto que cai, e a percepção de que estaria apenas posto à um lado, sem oponentes à se ligar, sem socos a jorrarem no ar, de maneira que, sem justiça para que possa julgar. Amoral, como se colocaste deus para avaliar, estariam todos ali. De corações abertos, de perguntas sem respostas, de almas nada lavadas, apenas com seus copos postos de porres para esquecer.

As escadarias, todas eram brancas, sujas, e ensopadas, os corpos que dali caíram, os mortos que brotavam aos montes, e tudo é parte de um, apenas um hotel. Encontrei-me e perdi-me varias vezes por dentro, e quando disse adeus, jurava que não ocorreriam nãos, que não valeriam centavos, e hoje cada centavo é e custa caro, sempre ávidos. Válidos, e fálicos, expostos apenas porque quiseram ser deste modo, chocados com evasivas, tentando rimar, tentando encontrar, varrendo os pulsos no ar, e com o gosto de que iriam ficar não mais que apenas um pouco mais. Sem tetos, sem excrupulos, apenas o blues no quarto. Apenas o Dylan nos ouvidos, e todo o dinheiro que o Cash poderia doar em seus corações.

A dedicação era apenas dos que não se importavam, os loucos caminhavam à serem deuses, e os porcos, há esses sempre adquiriam mais e mais, acumulavam seus olhos, e espíritos, de modo a pintar, a cultuar,a viajar entre os braços das meretrizes, dos michês, dos clichés de "Eu não amo mais você". O fogo do peito, e o rancor dos descamisados, entre as favelas que procuram seu numero, e a teoria da paridade numeral tendem a não ligar mais. Todos eles padecem, morrem e renascem, day by day Bê. E como poderiam doar meus rins para conseguir o sustento, mesmo dentro de um urubu que nunca voa, dentro de um esboço que nunca se termina, e de uma falta que sempre se propaga, profana, endiabrada. A palavra que só existe em português não poderia ser dita, não existem ouvintes para ela, e mesmo assim ainda comunista, prevalece. Com o português falho, com os dinamos dos pobres diabos, com a arrogância dos que já tiveram, perderam, apostaram mais e foram surrados. Entre vinte e um andares, e vinte um corredores, ressoavam, e ressonavam, todos nós. Dói, arde, e costura-se para fora, a estação vazia, as músicas sempre os velhos hits do verão passado onde se esquece, e se volta ao passado para sonhar. Nenhuma notícia sua toca no rádio, os difusores quebrados, e os signos esses sempre cortados e esse meus caros, é o hotel Liberdade, onde estamos instalados, do bom dia malicioso de seus porteiros, aos que correm nus ausentes de comentários, absolutos escravos de seus muitos retardos.

"Bem vindo ao Hotel Liberdade, que sua estada dure tanto quanto as farpas entre meus rins, e que nós nos vejamos entrelaçados, capacitadamente outorgados."

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