sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Cole Porter Songbook


Sob a luz de uma tola lembrança, algumas linhas traçadas no papel manchado de tinta preta, poucas e boas linhas tremulas escritas, clichês e nada mais. Ao som do sax, do piano, do contra-baixo acústico, lá estava ele sentado mais uma vez tentando traçar novos planos, o fim do ano chegando, uma força estranha tramitando em seu peito, seu cinzeiro sujo, como sua vida suja, tudo fazia sentido antes do ultimo baile do submarino, seu terno risca de giz, sapatos engraxados, bicolores é claro, uma garota à espera e uma sensação de que sempre foi tarde, agora sim, com a barba mau feita, o terno, já só mais um pedaço da antiga classe risca de giz. Agora apanha seu maço, vazio, seu copo quase lotado, a voz que sempre te atordoa dizendo "já vai tarde...", uma imagem franciscana, um Boulevard a frente, uma garota ropodiando e brincando com seu brinco engraçado.


Sim esse senhor está no fim da festa, a festa passou e o ultimo tango já tocou, enfim só jazz resta, não está mais refinado, definitivamente acabado, com a brutal desolação de seus aposentos. Tenho que lhe dizer querido pragueja contra si mesmo em bom e claro som, você sempre se contradiz. Que tal um gole pra acalmar meu irmão? Você já está velho demais para sentir isso, para que brincar com tanta efusão. É viaje, pegue o carro, ou o trem, ao menos se existissem trens por aqui não é... Sim eu sei do que padece, mas nada que uma boa nova não resolva, saia, animo homem! Não vê que todo esse modernismo, toda essa escola alemã não passa de aparência, infâmia? Ouça o timbre do sax, nada de novidades não é? Agora sim, responda! Me mostre toda sua própria sentença.


Ainda desolado, como suas poucas e boas fracassaram, teus dedos cosam, sua barba cosa, mãos na cabeça mas nada de assalto, apenas te furtaram essa pequena emoção, dignidade irmão. Nada que a frustração não resolva. Mesmo assim ainda pensa, no retorno do baile, nos pequenos segundos que duraram a ultima sessão, claro, não seria diferente, sente que a cada segundo do passado, é que sua releitura pós-trauma remonta o ultimo passo. Sim, valeu a pena não é meu caro? Animo, tome um trago, o ano está quase virando, novas virtudes provaram sua carne, outras longitudes atingiram seu cansaço, outros bailes. Ah! Outros bailes! Não sente o frescor da noite, do creme pós barba, a limpeza quase santa, o sanitarismo alcançando a sua maior graça, teras outro terno, outras noites, outros maços, outros tangos, cansaras de escutar "I love paris", havera mais belos momentos à sós e sim esqueceras de mim, o tão apontado Jazz.

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