quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cala-te!


A noite estava fria cortando-me a face. O diabo espreitava em todas as esquinas, em seu micro vestidos de cetim barato, seus tamancos com salto alto. Meu cigarro já estava no filtro e a porcaria da encomenda não havia chegado. Recostei-me à parede, uma situação desconfortável nos pés influíam no meu desejo de foder com tudo e todos, ir à casa noturna mais próxima, me engalfinhar com a primeira meretriz que encostasse a minha vista. Tudo em vão! Os poucos pensamentos entre um trago e uma baforada durariam menos de segundos. Noite árida! O tédio corria nas veias e a corrupção não me deixavam outras alternativas, ademais, não parecia me caber muitas escolhas, o cheque só seria entregue junto à encomenda. Merda, tantas mulheres na esquina e nenhuma fêmea, logo essa cidade vai se transformar em um bordel homossexual, e eu não quero estar aqui pra ver!

A esquina pouco acolhedora, não me inspirava confiança. Talvez pelas luzes fracas, mariposas e baratas circulando como civis. Não sei. Talvez fosse só uma impressão de morte caminhando lado a lado comigo. Como um pássaro negro agourento eu daria com esse serviço meu ultimo vôo! Planejei mil vezes isso, e três mil deixei a oportunidade passar, mas isso não é pra mim. Nem mesmo os médicos dariam um atestado de salubridade para essa posição. Angina, maldita angina! Esperar o que de um velho de quarenta anos, isso não é mais pra mim. Talvez seja para a corporação que estoca quilos e quilos de bagulho e ainda extorque de prostitutas seu “café”. Não pra mim. Eu as salvo delas mesmas. Livro a poluição do ar, e claro nem sempre isso pode ser limpo. Uma vez li em algum lugar, a chamada “Por trás da mente de um criminoso.”. Bolachas que sabe do que diz! Quando se vê a primeira gota de sangue sair do nariz é mais apavorante que quando se dá o primeiro tiro. De fato, a primeira noite de um homem é mais estranha do que o seu primeiro crime.

Enfim luz. Algum automóvel promove a luz! E eu já estou sem paciência pra correr atrás dela. Dou alguns passos e espreito. Angustiante essa demora! Já deveriam estar com a encomenda há horas e não vou procurar parar de pensar tão cedo. Ainda nem passam das três. Embora o veículo se aproxime nada pode dizer se é ao certo o que eu imagino. Na verdade nem sei ao certo do que se trata, sou só o garoto de recados daquele bastardo, e que recado de luxo deve ser esse para ter me mandado. As mãos já estão coçando! DROGA! Melhor apanhar as moedas do meu bolso assim evito maiores problemas com a Janaína. Mas ela é tão linda! Poucos centímetros a distanciam do meu indicador, tão macia quando eu a pressiono, e a posiciono sobre certas cabeças. Ah Janaína! Certo segurar você não me fará mal!

Certo o carro parou, é sim minha encomenda! Dou passos largos, atinjo o ápice de minha dignidade! Bato ao vidro, e ele desce! O azul calcinha desse Opala certamente não caíra bem. Foda-se, não estou aqui pra buscar títulos de lanternagem! O vidro desce e a fumaça sai pelas ventas! Que diabo é isso? Meio cedo para mandar um junkie qualquer cuidar de entregas, porra! Algo não está certo aqui! Pergunto se está com minha entrega. Nenhuma resposta e um som estranho de balbucios. Aquilo me irrita muito, como se eu não estivesse ali, como se ali fosse uma avenida de grande circulação! Ora, diga logo, entregue logo e caia fora! Deus precisa de um trago! Alcanço meu maço, acendo um cigarro e a cada trago me refaço! E então sem mais delongas a porta se abre!

- Ei! Você é o cara? – Pergunta ele, ainda com a cabeça dentro do carro, com os pés para fora. Poderia decepá-los ali mesmo só empurrando a maldita porta!


- Que espécie de gente pergunta se eu sou eu mesmo, oras! Eu tenho um nome, uma cara, e ainda to metido em merda até o pescoço essa noite, então é lógico que eu sou o cara! – Respondi! Como se fosse alguma novidade isso para ele!


- Ei calma! Você ta muito nervoso rapaz, não era essa recepção que eu esperava! Teu lance tá dentro do carro maninho! – Lembro de perguntar nos meus botões, então por que diabos ele não abriu a mala? Quando vi atropelei!


- Maninho é a puta que te pariu, filho da puta! Abre logo essa merda! – Já estava segurando a porta, e sim! Seria extremamente fácil!


- Filho da puta não brow! Se liga que não ta falando com qualquer um! Vai te lascar seu porra! – Que espécie de imbecil procura confusão em uma entrega? Não pensei duas vezes mais! O sangue já estava fervilhando. As idéias não paravam de brotar, e antes que ele pudesse sair, enfiei a porta travando seus pés, arrebentando seu nariz e provavelmente o resto de hombridade que ele tinha! A Janaína agiu rápido! Dois tiros bastaram e nada mais de conversa! O ruim desse tipo de serviço é não, não há hipóteses de sair-se limpo! O Sangue do cara era muito vermelho, e tinha um aroma de suco de uvas. Certamente aquele marginal estava doente, algum tipo de infecção no mínimo!


Abri a porta, apanhei as chaves e enquanto olhava pros lados encontrei um guarda! Malditos soldados! Bem, “Janaína Strikes again!”


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