segunda-feira, 28 de julho de 2008

Auto Piloto (Parte II)

Naquela altura da vida basear-me no silêncio de nuances assombrosas daquela criatura não parecia ser a opção mais sensata, de fato achava mesmo que não era aquele cenário nada usual e todas as semelhanças e expectativas torpes podiam ao menos convergir mais do que confundir. Obviamente seria um desastre, já era um desastre. Não sei se fui eu, ou se fora ela, quem em absoluto paradoxo imaginário contribuirá para a noite ser tão milimetricamente produtiva, naquela altura já não importavam mais se as mães da invenção eram mesmo conceituais, ou se as pipas de seus avós não sobem mais, de modo que era intrigantemente doloroso pensar, não havia o porquê, mas sim havia esse coeficiente de dor, como se minha cabeça tivesse sido arrancada e meus miolos expostos à qualquer tipo de radiação energética. Por sinal imaginei que seria mais interessante para eu voltar ao meu apartamento, pegar um belo café forte e maltratar minhas cordas vocais com quilos de cocaína, porém estava mais para um anão se reação sob um gigante, do que qualquer grande pugilista esmurrando seu oponente.

- Por que disse que alguém fez merda? O que isso significa pra você moça?

- Ora doutor, eu não tenho todas as respostas do mundo, tão pouco tenho medo de perder meu tempo, tenho todo tempo do mundo agora, adoraria embarcar nessa desestimulante conversa, mas não seria menos obvia não é? - Estava tão absoluta de si, que era difícil não pensar que teria sido uma grande virada de mesa, seria sim, muito absurdo pensar isso, mas de fato, ela tinha mais controle sobre minha curiosidade do que eu próprio.

- Querida, só idiotas respondem perguntas com outras! Diga-me, quem fez merda?

Ela caminhava até o banheiro, e seus passos não pareciam muito coerentes, um certo desequilíbrio alcoolista estava sim preso naquele corpo belo, sim, pouco me importavam agora as perspectivas de seu corpo, era singularmente curioso o absoluto temor que aquela voz me causava, como se as portas do apartamento sempre dormirem abertas, janelas desprovidas de trancas e demais apetrechos, como se minha arma não bastasse para me defender, e foi ai que ela se virou, com os olhos mais verdes que eu podia ver, um verde tão claro que parecia não ter cor.

- Não sou eu quem tem que responder suas perguntas, o senhor tem capacidade pra isso, teve capacidade para vir ate aqui, capacidade para distinguir o que é certo do que seria errado né. Eu só posso dizer que nem a policia, nem mesmo a dona do apartamento, poderá explicar nossa conversa. Mas sinceramente querido. Essa arma não é minha, eu só assisti ao que às vezes já me fizeram. - Voltando-se à sua poltrona.

É não posso negar que aquilo estava cansativo, que toda aquela transpiração ia alem dos garotos com problemas sexuais que eu tinha de tratar, longe das madames divorciadas tristes por que seus cães não recebem carinho, estava mais disforme que qualquer saco plástico, do modo como parecia a situação eu não vazia alguma idéia de como seria o fim de tudo, claro nunca acreditei num fim, mas aquilo era ridículo, era ela quem forçosamente necessitava de auxilio, e eu imbecilmente não conseguia sequer manter um dialogo inteligente, apenas as obvias perguntas, como se eu soubesse o que era, mas me esquivasse da realidade. Que realidade? Eu me indagava. Precisava de mais um cigarro. Acendi o ultimo filho da puta que acabara com meus pulmões, fui ate a porta me encostei nela, pensei e repensei uma frase e independente de ter pensado bem me expus a toda:

- Certo, eu respondo! Você estava aqui com teu amante! Ia tudo bem ate vocês se desentenderem, e sim deu em merda. Ele te deu um tapa, você caiu ao chão, puxou o lençol consigo, quando levantou a discussão permaneceu e houve luta. Novamente ele tentou te bater e você se defendeu, não mediu bem sua força, o matou e escondeu o corpo na banheira! Logo após sentou-se ai e gritou, com absoluto espanto. - Dei uma forte tragada, certo da grande babaquice que tinha dito e pronto para ser confrontado, ao menos aquilo seria algo mais próximo de um dialogo real, já que ela não falava coisa com coisa.

Era interessante como seus olhos reagiram às minhas palavras, como as mãos começaram a suar e o brilho era tão grato a mim que me senti quase como um santo.

- Nossa! Como eu sou má! Sabe, eu não imaginava que era capaz de produzir provas tão facilmente contra mim, e desculpe mais você não é o tipo correto de pessoa pra me julgar, claro, acertou uma peça, faltou o contorno do mosaico.

- Acertei? - Corri imediatamente ao banheiro, olhei o cubículo e ao fundo existia a banheira, os azulejos brancos, estava bem mais amarelado agora seu tom, uma cortina qual eu conhecia bem separavam a mim da banheira, fiquei imóvel alguns segundos, busquei alguns rastros de sangue e nada. Ela ria, mais ria tão irritantemente que de uma vez só puxei a cortina. Nada alem da perda da minha dignidade! Como pude ser tão inocente, teria sido fácil demais acertar jogando uma bobagem daquela. Mas por sua vez, por que ela iria falar que acertei uma peça de um mosaico? Aquilo soou tão realista. Sai do banheiro e pensei no próximo passo que daria naquele xadrez. Prossegui: - É realmente faltou uma parte, acho que a policia não terá problemas para resolver essa parte, estou indo embora, caso precisem de mim, que liguem no horário comercial, tenho atividades logo cedo. Preciso descansar, ate logo!

Ao pronunciar meu ate logo corrompi uma máxima minha, nunca utilizava o artifício de "desistir para ganhar", esse tipo de psicologia infantil me deixava muito nervoso e era pouco eficiente. Era sempre mais fácil confrontar, como diria sua avó, puxar a língua do paciente e dai sim, partir para um analise, entretanto funcionou mais uma vez, não da forma como eu esperava, mas de algum modo ela disse mais uma frase que em mim fez mais sentido pessoalmente do que ao caso dela.

- Dizem os religiosos, "Que descanse em paz!". Deve ser bem produtivo o ócio para essas pessoas. - Acendeu mais um dos muitos cigarros assassinados naquela noite.

- De fato minha cara, todos somos lesmas preguiçosas que procuram comer para morrer cheio, não e a toa que oferecem uma ultima refeição.

- Foi por isso que o senhor comeu antes de nos encontrarmos?

- Não. Isso é mais uma ameaça? Tenho o dobro do seu peso menina! Acho que não seria muito justo da sua parte tentar-me agredir. Seria mais interessante mantermos o mínimo possível ate a policia chegar.

Ela retrucou: - Achei que o senhor estava de saída. Tão bobo, quase como um adolescente procurando cerveja.

Não poderia não rir daquela frase, ou da constatação dela de que eu sim estava mais para uma vitima da sagacidade do pensamento dela do que propriamente de uma analise precisa. Como pude me perder tanto em coisas tão simples! Que imbecil eu estava, bêbado de sono, com dor de cabeça, intrigado, frustrado, torpemente enganado pelo meu objeto de estudo. Como eu poderia parar de pensar naquilo, como me salvaria? Não saberia dizer, nem ela pelo visto, pondo-me a pensar que ela só me fornecia evasivas, tão acida quanto um abacaxi escorrendo na boca, todos esses minutos ainda assim me pareciam horas, e todas essas horas se resumiam em segundos, quem disse que é fácil ir para o inferno mentiu.

Estava eu mais confuso. Primeiro ela tentara confundir, jogando que ali era meu sangue, depois tentara dizer que sim eu acertei em minhas proposições, quando tudo, tanto seu quanto meu, não passou de uma pequena fabrica de brinquedos. Distraídos poderiam sim ver menos do que caberia a uma leitura mais definitiva daquela mulher, eu poderia ter feito isso e não fiz não me pergunte o porquê, as sirenes tocavam e todo o bairro parecia estar já acordado, eu queria alguns minutos amais, necessitava de mais horas com ela. Queria sexo, queria a atenção, queria entender ela, já estava em um turbilhão tão pesado que se saísse agora não conseguiria voltar e me concentrar em outras coisas. Aquela mulher tinha de ser minha de alguma forma, seja a sua psique, seja o seu corpo. Explicariam isso caso eu fosse um seqüestrado, mas naquela situação era mais do que apenas uma atração simples, não saberia como explicar. Talvez eu precisasse morder aquela carne sentir o sabor de sangue escorrendo por meus dentes, e sugar o resto de vida dela para mim. Tão ferozmente quanto um animal pode ser. Rasgar aquelas idéias com minhas unhas e fincar no coração de outrem a frustração de ela me transmitira.

Não pensei duas vezes, ao primeiro sinal de sirenes, lhe pedi desculpas, sai para sala e busquei a porta! Aquela senhora gorda estava entrando, e também não pensei duas vezes! Dei-lhe de presente um belo soco no nariz que a fez recuar com todo aquele peso longe de mim. Tranquei e dei-lhe as costas, a ouvia gritar e dar algumas batidas à porta. Passei para o quarto e fiz a mesma coisa! Transpassei a chave ao trinco, e girei como num orgasmo, em uma desorientação perfeitamente não explicada.

- Sim estamos sós e você ira me dar respostas. Por que para mim de ajudar você tem de me ajudar! Eu quero, e eu necessito disso, para mim já não bastam essas evasivas, já gastamos muito tempo aqui. Diga-me, o que ocorreu? Como Estou inundado de sangue, como você pode estar morta? E porque dessa minha curiosidade? Se for eu quem morreu a policia não terá problemas para abrir a porta, se tiverem dificuldades é sim por que eu não estou morto, logo tão pouco você sua louca!

Um comentário:

Érica disse...

Termina isso logo

:P

hueheiuheiuehiueheihei