segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Auto Piloto IV

Todas as minhas trips variaram de acordo com uma trilha sonora, e inevitavelmente culpar a quem senão ao amor. Sim, o mesmo amor que transmite êxtase e agonia, fúria e sinais elétricos que não seriam desnudos de uma matéria densa. Desde muito cedo, deixe-me envolver por mulheres, das mais variadas, das mais típicas, e em que isso se liga à noite de hoje? Em exatamente tudo creio eu meu caro. A inevitável busca da policia por mim, a aparente morbidez da moça em questão, até a senhora gorda esmurrada. Todos os fatos intimamente ligados à uma incapacidade de ter relações duráveis, de não sequer pensar em ter.

Vejamos que se eu tivesse, jamais teria me sentado e tentado ajudar só por tratar-se de uma linda rapariga, de modo que não teria deixado me envolver, e de fato não seria agora quase como um seqüestrador para a policia. A gorda, sim a gorda eu poderia esmurrar! Sentei-me à cama, já não me interessava por suas evidencias, apenas as minhas, o que eu faria de agora para frente. Acendi o ultimo cigarro dos bolsos. Pus-me recostado à cabaceira, com os pés, pernas e braços soltos em total torpor. Sim iria aproveitar aquele ultimo cigarro como aproveitei de varias coisas sobre a vida. Encurralado, miserável, e completamente patético não me importavam mais analises, ou retóricas, contanto que ainda me restasse a ultima parcela de dignidade que provavelmente ainda tinha em mim. Triste? Pode ser, mas não se pode ter tudo sempre. Não se tem na verdade quase nada sempre.

Obviamente o desespero cedeu a uma espécie estranha de conforto. Logo viriam os passos seguintes, abrir a porta, deixar prender-me e responder por meus atos. Isso soou decente naquele momento, de modo que nem mais uma palavra disse até o recomeço da jovem.

- Digno é morrer assassinado meu caro. – falara aquilo com uma calma tão arrepiante, como se eu tivesse as voltas com imagens soltas no ar. A Tranqüilidade sempre me dava a impressão de anteceder ao inferno, com suas labaredas seu desespero cômico, abduzido por alienígenas vestidos de palhaços em um campo longínquo. E desta forma ela prosseguiu, sem muitas barricadas de infantaria. – Morrer sufocado, ser estripado, isso sim teria glamour! Nada de tiros ao ouvido, antecedidos por choros e rum. Nada mais de ver as mãos cheias de um sangue que não é teu, e que te faz caminhar ao infinito, totalmente finito.

Estava pasmo, do que ela fala tanto que eu não entendo. Como eu só posso estar preso a essa criatura sem sequer saber teu nome? Curiosidade tem limites. De fato, me interessava mais por aquela situação, por estar, a cada frase me satisfazendo, me respondendo, cada obstáculo previsto, toda monotonia, todo o hemisfério Sul, tudo convergia para aquele quarto, de modo que eu já não sabia mais onde realmente teria começado toda aquela teoria, todo aquele estranho mundo paralelo.

Ela prosseguiu:

- Você realmente não sabe o que houve né? Não consegue me responder ou mesmo despir minhas roupas, se quer você poderia me tocar. Eu poderia ficar nua e você nada faria querido. Aceite você já morreu e não sabe disso.

Respondi imediatamente à aquela afirmativa bizonha.

- Eu morri? Sério, que droga é essa que você usou, que também quero provar?

Então fez se o silencio, ela caminhou ate a porta trancada. Colocou-se de costas, inclinou-se e disparou. – Você deu um tiro no ouvido, e assombrosamente bêbado não errou. Dê um minuto e verás tudo com clareza.

Que diabos eu fazia ali dando ouvidos à uma provável sociopata! Sabe é nessas horas que você se castiga eternamente. Nesse momento que você descobre o quão burro você é. De fato, tudo me era extremamente familiar, todo o banheiro, a situação do quarto, e a incrível capacidade dela de notar o meu vicio por bebidas, mas qualquer detetive civil de quinta saberia verificar isso.

- Certo querida, te darei o minuto, vou lavar o rosto sua louca! – Levantei-me da cama, estralei meus dedos, o som propagava por todo o cômodo. Acendi um cigarro, caminhei a finco ate o banheiro. Escorei o cigarro na pia e abri a torneira, ouvira de fora o som da guria sentando, o som da policia batendo a porta e arrombando a sala. Os passos policiais sempre foram mais enérgicos, as sirenes em baixo do prédio já pararam de tocar, sentei-me ao chão mesmo, nada mais do que merecia. Busquei relaxar, fumei, pensei, e imaginei dizer que essa mulher me trancou aqui como refém, nunca foi bom com policiais.

Engraçado depois de certas horas você não sabe bem o que faz, minha solução foi simples. Jogará a cabeça na pia ate desmaiar. Provavelmente cai solto ao chão e com certo risco de um belo galo na face. A policia declararia que eu tinha sido sim vitima dela, baseada claro no meu depoimento, só me restaria responder as acusações de agressão contra a gorda. Dessa, eu assumiria, não seria o primeiro homem a bater em uma mulher insuportável.

O problema de bolar planos, é que a probabilidade deles não vingarem é alta, então me certifiquei que sangue iria ser suficiente, medi a necessidade da minha força e sim exagerei. Nem mesmo duas batidas foram necessárias, cai como um cavalo velho. Não me lembro dos fatos a seguir, ou de muitos outros que passaram a partir dali, sei que no hospital recebi varias visitas, nenhum conhecido, nem mesmo minha mãe. Ouvi, vi e não venci.

Um comentário:

Luciene de Morais disse...

Que história!!
Vamos ver como continua...
bjs