sábado, 13 de dezembro de 2008

Noites de Cabíria (Parte I)



Náuseas, dor de cabeça, litros e litros de água para engolir todas as pílulas. Do calor de suas pernas, ao frio dos tacos de madeira, era seguido por todos os fantasmas da revolução chilena. A ligação entre os formatos das gotas de chuva que caem no pára-brisa do seu automóvel, e a extensa dimensão dos fatos, atribuía a mim o gosto pelo gozo, pelo teu cansaço, Contrane ou Davis, soariam nessas núpcias, enquanto um cinzeiro notável, bravo e áspero arrebataria nossas almas pelos tragos dados. De fato o minuto não seria mais minuto sem sua companhia.

Eu a encontrei, como tantas outras foram encontradas, mas a despi como somente ela poderia ser endeusada, no caminho onde a serpente caminha, nem Adão, nem Eva, conquistam individualmente o paraíso, e por hora nada era mais sensato. Do deslizar de suas alças ao desabotoar do tempo, atribuía novamente eu um absurdo conto de estabilidade. Mas vamos não vamos aos fatos, de factóides os tablóides se viciam e nada teria muita graça.

Era fim de tarde, o rodeio da noite eminente, de maneira a prosseguir com o ar menos denso, e os meus passos decadentes. Paletó risca de giz, chapéu, e sapatos de cromo alemão. Deus sabe que nesses tempos de pós guerra a elegância vem em primeiro lugar. Entre Cowboys e bonecas nazistas, somente minha Rolleiflex poderia fotografar a eternidade. Meu cigarro entre os dedos, a gravata listrada, e uma simples espera. A espera dela, descia do saguão do hotel, sobre scarpins, envolta em panos que mais pareciam a fazer flutuar sobre os demais mortais. As cartas escritas por uma leitora assídua de uma coluna fraca, feita por um colunista não menos fraco, haviam rendido uma grande companhia, e de modo que o fato jornalístico agora era encenado pelo ditador das palavras.
O baile começaria em algumas horas, em tempos difíceis, poucas diversões eram mais aguardadas que ele. Cada minuto de espera era drástico, e a pontualidade tomara meu coração de assalto. "Esperar o que, e de que vale esperar?", perguntas recorrentes de uma mente não sã, com um corpo que em poucos momentos estaria exausto morto sobre uma cama. Um ultimo ajuste na gravata, no caimento do paletó, e ponto, rodeava o saguão esperando a perfeição. Um salto para a eternidade seria a filmografia escolhida a seguir. De barbas e cabelos aparados, eu a vi apodeirar-se de todos os véus, arrebatar-me aos céus, egolir-me como um trago de uísque, e domesticar o psicótico que provavelmente tomaria conta de mim.
Naqueles dias, era moda não se atrasar, dizia-se de bom tom obrigar-se a ser sociável. Talvez pela reconstrução mundial, talvez pela pouca excentricidade do mundo. De modo que pouco ligávamos, se judeus morriam no velho mundo, pouco sabíamos das reais proporções da união mundial. Apenas queríamos ter em John Wayne um herói a seguir. E nas taças de champagne uma determinação para viver.