segunda-feira, 29 de setembro de 2008

“Café, Dylan e distrações!”


A noite sempre começa com o balbuciar vermelho dos lábios dela. Aqui já não mais aquele que outrora outorgava de si o relevo e a forma. Aquele que tirava de um trago a sinopse de uma outra nova história. As fortificantes expressões do cansaço, o português belo e bem pronunciado, adquiriam a profilaxia de novos tempos, de fato. Entre convenções e rabiscos traçados, linhas descritas pelas cartas benignas, extirpavam o tumor de seu “old fashion”. Enfim, encontrara alguém que valha compactuar, desde a sede da coca-cola gelada, à fúria do maço de cigarros amassados. De torniquetes, ao ar da vossa graça. O sorriso, os dentes, e entre tantas, vistas, visitas, sabe se lá o que mais, o negro sempre se pronunciará como uma orquídea. Traços, como se o coração cronológico fosse rabiscado no braço, como se a vida eterna compilada em frascos, e deles as letras para ousar em teu seio. Pousa o leve, e pousa o pesado. O vento sopraria, pelas letras de Neruda da mesma forma que o rosto afeiçoaria ao tumor de Ibiza. O mod rocker mais uma vez convocado. O extermínio do funky bussines outra vez arraigado e tão frio é o estomago, que já me vou ajoelhado.

Nada de aglomerado de vírgulas, que completem o espaço, ou de maltrapilhos fatos que perduram meus recados, fariam mais interessante diria ela a um outro lado. Nem boas ou más idéias, somente as que nos foram agraciadas. Diriam os entusiastas de botequim, que nunca houve um gosto que não devesse ser provado, e sim, eu venho queimando meus litros ainda que de modo figurado. Rimas. “Oh! Rimas”, já se espaça qualquer ímpeto absoluto, destrona e desforra o telhado, de modo algum faz sentido abstrair. Ao inferno em três passos diriam os fracos! Mas eu, bom eu me recuso a não rolar meus dados. Que seja a ultima aposta, mas com ela eu quebro a banca, abro meu novo rastro e forço novamente o esquadro fornicar em seus alvos fáceis. Sabe se lá quando teria outro confronto, e que o embate levaria a minha sincera amenidade. Singular não? Como o café posto à mesa, com sua porcelana elegante. Como um disco de Dylan rabiscando nossos sonhos delirantes, todas as distrações são mais que permanentes para o seu som perdurar vários instantes. Instantaneamente, a Dama arranca do Valete seu vocábulo: “Café, Dylan e distrações!”

Posso ter planado como o Albatroz, envolto em tempestades dissipadas, ou agradecido à sorte que me fora lançada. Mas hoje recuperei muito do tempo que estava envolto em traças. Que me perdoem as strippers, os amigos e agregados. O ultimo tiro eu darei e não restaria muito para ser enterrado. Que seja árduo, rápido, ou mesmo básico. Que tenha o gosto dos teus lábios, o som dos teus ossos roídos pelos meus braços, que rompa a sorte dos lençóis esticados, e que por fim ira valer cada centavo gasto. Não como um show de imagens, ou ofertas parisienses desmotivadas. Absolutamente como a vodka que jorra de supermercados, e o uísque que mesmo velho ainda assim não é gasto, será o nosso ultimo trago. Aceita um cigarro honey? E enquanto eu distraio a groupie, você lhes arrancará cada centavo!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cala-te!


A noite estava fria cortando-me a face. O diabo espreitava em todas as esquinas, em seu micro vestidos de cetim barato, seus tamancos com salto alto. Meu cigarro já estava no filtro e a porcaria da encomenda não havia chegado. Recostei-me à parede, uma situação desconfortável nos pés influíam no meu desejo de foder com tudo e todos, ir à casa noturna mais próxima, me engalfinhar com a primeira meretriz que encostasse a minha vista. Tudo em vão! Os poucos pensamentos entre um trago e uma baforada durariam menos de segundos. Noite árida! O tédio corria nas veias e a corrupção não me deixavam outras alternativas, ademais, não parecia me caber muitas escolhas, o cheque só seria entregue junto à encomenda. Merda, tantas mulheres na esquina e nenhuma fêmea, logo essa cidade vai se transformar em um bordel homossexual, e eu não quero estar aqui pra ver!

A esquina pouco acolhedora, não me inspirava confiança. Talvez pelas luzes fracas, mariposas e baratas circulando como civis. Não sei. Talvez fosse só uma impressão de morte caminhando lado a lado comigo. Como um pássaro negro agourento eu daria com esse serviço meu ultimo vôo! Planejei mil vezes isso, e três mil deixei a oportunidade passar, mas isso não é pra mim. Nem mesmo os médicos dariam um atestado de salubridade para essa posição. Angina, maldita angina! Esperar o que de um velho de quarenta anos, isso não é mais pra mim. Talvez seja para a corporação que estoca quilos e quilos de bagulho e ainda extorque de prostitutas seu “café”. Não pra mim. Eu as salvo delas mesmas. Livro a poluição do ar, e claro nem sempre isso pode ser limpo. Uma vez li em algum lugar, a chamada “Por trás da mente de um criminoso.”. Bolachas que sabe do que diz! Quando se vê a primeira gota de sangue sair do nariz é mais apavorante que quando se dá o primeiro tiro. De fato, a primeira noite de um homem é mais estranha do que o seu primeiro crime.

Enfim luz. Algum automóvel promove a luz! E eu já estou sem paciência pra correr atrás dela. Dou alguns passos e espreito. Angustiante essa demora! Já deveriam estar com a encomenda há horas e não vou procurar parar de pensar tão cedo. Ainda nem passam das três. Embora o veículo se aproxime nada pode dizer se é ao certo o que eu imagino. Na verdade nem sei ao certo do que se trata, sou só o garoto de recados daquele bastardo, e que recado de luxo deve ser esse para ter me mandado. As mãos já estão coçando! DROGA! Melhor apanhar as moedas do meu bolso assim evito maiores problemas com a Janaína. Mas ela é tão linda! Poucos centímetros a distanciam do meu indicador, tão macia quando eu a pressiono, e a posiciono sobre certas cabeças. Ah Janaína! Certo segurar você não me fará mal!

Certo o carro parou, é sim minha encomenda! Dou passos largos, atinjo o ápice de minha dignidade! Bato ao vidro, e ele desce! O azul calcinha desse Opala certamente não caíra bem. Foda-se, não estou aqui pra buscar títulos de lanternagem! O vidro desce e a fumaça sai pelas ventas! Que diabo é isso? Meio cedo para mandar um junkie qualquer cuidar de entregas, porra! Algo não está certo aqui! Pergunto se está com minha entrega. Nenhuma resposta e um som estranho de balbucios. Aquilo me irrita muito, como se eu não estivesse ali, como se ali fosse uma avenida de grande circulação! Ora, diga logo, entregue logo e caia fora! Deus precisa de um trago! Alcanço meu maço, acendo um cigarro e a cada trago me refaço! E então sem mais delongas a porta se abre!

- Ei! Você é o cara? – Pergunta ele, ainda com a cabeça dentro do carro, com os pés para fora. Poderia decepá-los ali mesmo só empurrando a maldita porta!


- Que espécie de gente pergunta se eu sou eu mesmo, oras! Eu tenho um nome, uma cara, e ainda to metido em merda até o pescoço essa noite, então é lógico que eu sou o cara! – Respondi! Como se fosse alguma novidade isso para ele!


- Ei calma! Você ta muito nervoso rapaz, não era essa recepção que eu esperava! Teu lance tá dentro do carro maninho! – Lembro de perguntar nos meus botões, então por que diabos ele não abriu a mala? Quando vi atropelei!


- Maninho é a puta que te pariu, filho da puta! Abre logo essa merda! – Já estava segurando a porta, e sim! Seria extremamente fácil!


- Filho da puta não brow! Se liga que não ta falando com qualquer um! Vai te lascar seu porra! – Que espécie de imbecil procura confusão em uma entrega? Não pensei duas vezes mais! O sangue já estava fervilhando. As idéias não paravam de brotar, e antes que ele pudesse sair, enfiei a porta travando seus pés, arrebentando seu nariz e provavelmente o resto de hombridade que ele tinha! A Janaína agiu rápido! Dois tiros bastaram e nada mais de conversa! O ruim desse tipo de serviço é não, não há hipóteses de sair-se limpo! O Sangue do cara era muito vermelho, e tinha um aroma de suco de uvas. Certamente aquele marginal estava doente, algum tipo de infecção no mínimo!


Abri a porta, apanhei as chaves e enquanto olhava pros lados encontrei um guarda! Malditos soldados! Bem, “Janaína Strikes again!”


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Reflexões sobre Jane!


Lá vai de novo com a pistola nas mãos, garimpando seus níqueis no bolso, sondando o velho diabo para rir de si mesmo. Mamãe já te disse que como sétimo filho teria de partir como paria, lançar-se confortavelmente ao sol e caminhar de botas simples no asfalto, é meu caro seu único destino é a auto estrada do coração, onde outrora eu podia ver os rastros que tu deixou. Dedo no gatilho, suzy marie falando bom inglês, e o tipo de verá é o mesmo tipo que esconde nos bolsos. Já te vi vagando pelas ribaltas, tocando cones e abduzido por outros espíritos, de modo que nada poderia fazer para limpar o quarto e abrir mais espaço para uma criatura entrar.

As reflexões sobre Jane, as divagações sobre "smoke the dope" não são tão sinceras, cuidado garoto, os poucos trocados pagam teu salvo conduto. O cheiro da chuva escorrendo no ralo e as reflexões sobre esses e aqueles não te cabem mais. Escute garoto, é necessário não confiar em idosos, de fato idosos corrompem, e exatamente assim te livro do pecado. Enquanto ela degola você atraí, e enquanto eu desfaço o nó você se faz. É meu caro, o diabo nem sempre cobra barato, e o cabaré nem sempre é iluminado. Enquanto ela de luto, em seu indefectível vestido negro de ombros caídos seduz o paraíso, tu não estarás abaixo purgando teus velhos entes queridos. Abaixo do sol, sobre tuas sementes!

Teu russo é melhor que seu francês, teu Galês melhor que o teu hebraico e se Deus não te salva, eu abro os caminhos pra tua alma, sabe se lá quando riria a procurar. Assim como ela você poderá ser Spartacus e gritar ao matar leões. Gladiadura é simples, e as feridas se limpam com a chuva, ou se secam no sol. E assim gaste teu tempo e solte teu rugido.

Enquanto as luzes não se apagarem você ainda assim cadencia teu samba, e ainda assim conta teus níqueis com primazia, de modo a compreender e complementar vossas escalas. Nada de barquinhos a velejar ou diabas a cantar, teu sex dry jamais teria rock and roll sem notar o ar de leveza que as olheiras compreendem. A velha grande maça podre não solta teus dentes, tão pouco cospem em teus pés. Abaixo do sol, sobre tuas sementes!



segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Cai à noite



Cai à noite sobre o dia
Ninguém na escada cantava
Quando a luz do sol esvaia
Seu peito me iluminava
Iluminada, pairava sobre mim a sorte.

De deitar-me ali um dia.
Em nosso leito, nossas memórias.
Cravadas com os dentes, na pele as farpas sob os lençóis!

Cai à noite sobe o dia
Ninguém no convés falava
Quando o ninho que se pôs ouvia
Cai a noite em outro dia
Ninguém na escada cantava.

Nenhuma garoa fugia.
Nem uma magoa existia.
Só a madrugada, só a pouca água, só a tua falta...





* Trecho da Ópera rock "Cabaré de Cego" by Marcus Müller; Mov 11º;

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Auto Piloto IV

Todas as minhas trips variaram de acordo com uma trilha sonora, e inevitavelmente culpar a quem senão ao amor. Sim, o mesmo amor que transmite êxtase e agonia, fúria e sinais elétricos que não seriam desnudos de uma matéria densa. Desde muito cedo, deixe-me envolver por mulheres, das mais variadas, das mais típicas, e em que isso se liga à noite de hoje? Em exatamente tudo creio eu meu caro. A inevitável busca da policia por mim, a aparente morbidez da moça em questão, até a senhora gorda esmurrada. Todos os fatos intimamente ligados à uma incapacidade de ter relações duráveis, de não sequer pensar em ter.

Vejamos que se eu tivesse, jamais teria me sentado e tentado ajudar só por tratar-se de uma linda rapariga, de modo que não teria deixado me envolver, e de fato não seria agora quase como um seqüestrador para a policia. A gorda, sim a gorda eu poderia esmurrar! Sentei-me à cama, já não me interessava por suas evidencias, apenas as minhas, o que eu faria de agora para frente. Acendi o ultimo cigarro dos bolsos. Pus-me recostado à cabaceira, com os pés, pernas e braços soltos em total torpor. Sim iria aproveitar aquele ultimo cigarro como aproveitei de varias coisas sobre a vida. Encurralado, miserável, e completamente patético não me importavam mais analises, ou retóricas, contanto que ainda me restasse a ultima parcela de dignidade que provavelmente ainda tinha em mim. Triste? Pode ser, mas não se pode ter tudo sempre. Não se tem na verdade quase nada sempre.

Obviamente o desespero cedeu a uma espécie estranha de conforto. Logo viriam os passos seguintes, abrir a porta, deixar prender-me e responder por meus atos. Isso soou decente naquele momento, de modo que nem mais uma palavra disse até o recomeço da jovem.

- Digno é morrer assassinado meu caro. – falara aquilo com uma calma tão arrepiante, como se eu tivesse as voltas com imagens soltas no ar. A Tranqüilidade sempre me dava a impressão de anteceder ao inferno, com suas labaredas seu desespero cômico, abduzido por alienígenas vestidos de palhaços em um campo longínquo. E desta forma ela prosseguiu, sem muitas barricadas de infantaria. – Morrer sufocado, ser estripado, isso sim teria glamour! Nada de tiros ao ouvido, antecedidos por choros e rum. Nada mais de ver as mãos cheias de um sangue que não é teu, e que te faz caminhar ao infinito, totalmente finito.

Estava pasmo, do que ela fala tanto que eu não entendo. Como eu só posso estar preso a essa criatura sem sequer saber teu nome? Curiosidade tem limites. De fato, me interessava mais por aquela situação, por estar, a cada frase me satisfazendo, me respondendo, cada obstáculo previsto, toda monotonia, todo o hemisfério Sul, tudo convergia para aquele quarto, de modo que eu já não sabia mais onde realmente teria começado toda aquela teoria, todo aquele estranho mundo paralelo.

Ela prosseguiu:

- Você realmente não sabe o que houve né? Não consegue me responder ou mesmo despir minhas roupas, se quer você poderia me tocar. Eu poderia ficar nua e você nada faria querido. Aceite você já morreu e não sabe disso.

Respondi imediatamente à aquela afirmativa bizonha.

- Eu morri? Sério, que droga é essa que você usou, que também quero provar?

Então fez se o silencio, ela caminhou ate a porta trancada. Colocou-se de costas, inclinou-se e disparou. – Você deu um tiro no ouvido, e assombrosamente bêbado não errou. Dê um minuto e verás tudo com clareza.

Que diabos eu fazia ali dando ouvidos à uma provável sociopata! Sabe é nessas horas que você se castiga eternamente. Nesse momento que você descobre o quão burro você é. De fato, tudo me era extremamente familiar, todo o banheiro, a situação do quarto, e a incrível capacidade dela de notar o meu vicio por bebidas, mas qualquer detetive civil de quinta saberia verificar isso.

- Certo querida, te darei o minuto, vou lavar o rosto sua louca! – Levantei-me da cama, estralei meus dedos, o som propagava por todo o cômodo. Acendi um cigarro, caminhei a finco ate o banheiro. Escorei o cigarro na pia e abri a torneira, ouvira de fora o som da guria sentando, o som da policia batendo a porta e arrombando a sala. Os passos policiais sempre foram mais enérgicos, as sirenes em baixo do prédio já pararam de tocar, sentei-me ao chão mesmo, nada mais do que merecia. Busquei relaxar, fumei, pensei, e imaginei dizer que essa mulher me trancou aqui como refém, nunca foi bom com policiais.

Engraçado depois de certas horas você não sabe bem o que faz, minha solução foi simples. Jogará a cabeça na pia ate desmaiar. Provavelmente cai solto ao chão e com certo risco de um belo galo na face. A policia declararia que eu tinha sido sim vitima dela, baseada claro no meu depoimento, só me restaria responder as acusações de agressão contra a gorda. Dessa, eu assumiria, não seria o primeiro homem a bater em uma mulher insuportável.

O problema de bolar planos, é que a probabilidade deles não vingarem é alta, então me certifiquei que sangue iria ser suficiente, medi a necessidade da minha força e sim exagerei. Nem mesmo duas batidas foram necessárias, cai como um cavalo velho. Não me lembro dos fatos a seguir, ou de muitos outros que passaram a partir dali, sei que no hospital recebi varias visitas, nenhum conhecido, nem mesmo minha mãe. Ouvi, vi e não venci.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Auto Piloto (Parte III)

O que mais eu poderia ter feito? Aquela mulher mexeu com tudo que eu poderia julgar sadio. Como eu poderia estar tão confuso, e como tantas palavras poderiam prensar de uma só vez na minha cabeça uma convulsão tão grande? Estava ansioso pela resposta dela, tinha de valer a pena, tinha de ser merecedora do processo que eu iria sofrer de todo aquele caos que eu criei.

Só aguardava e nem sequer esboçava algum rabisco labial. Seria tão mais fácil se eu não tivesse ido até ali! Poderia estar dormindo, roncando, sonhando acordado com estralas pornôs e cânticos evangélicos que não faria mais mal do que aquela espera. Eu poderia extrair todos os dentes da boca, fazer mil lavagens intestinais, escrever mil sonetos, estudar toda a constituição brasileira, que seria menos moral do que aquela espera, ainda mais de como ela fora interrompida. Em bom e alto som, ela pronunciou as palavras mais sensatas que poderia ter pronunciado para mim.

- Sabe, sempre acho engraçado quando vemos aquilo que queremos ver. Como quando estamos apaixonados. Ligamos o piloto automático e deixamos tudo girar, compramos batons, pós, brincos e vestidos, nos enfeitamos pro outro quando o que mais importa somos nós mesmos. Sempre achei engraçado isso por que no caso do amor, nunca se é por inteiro, sempre se faz isso e em troca recebe-se o absoluto elogio, e de que serve o elogio se ele não é de você a você? De nada, pela passionalidade você deixa de ser você, e passa ser um esboço do que o outro vê de você, tanto que acaba por ver o que quer ver. A mesma situação se aplica à morte, ao nascimento, ao desabrochar da inocência e à perda da mesma. Você deveria saber disso doutor. Sabe, daqui a pouco vão bater a porta dizendo “É preciso arrombar!”, logo depois outros dirão: “ele era tão jovem”. Por fim coroas e visitas em um único dia por um grupo seleto de pessoas será o que irá levar. Promissor não acha? – Seus olhos estavam tão menos intensos quanto o sabor do teu cheio, na verdade eu já não sentira mais o aroma suave de seu corpo, já não tinha mais calma, estava exausto, e dei a ela a chance de prosseguir. Bem era mesmo o que eu queria, prosseguimento. – Me alcance mais um copo, sirva-me que faz um tempo que não bebo, e bebendo sempre articulo melhor, foi assim desde menina, desde que meu pai molhou minha primeira chupeta no seu caneco de cerveja, eu devia ter uns dois ou três anos.

Da porta fui até a garrafa, dei um gole e lhe passei mais um trago, sentei-me à cama e não tinha como não lhe perguntar:

- Quando eu cheguei você parecia tão frustrada, tão absoluta de si e frustrada. O que houve? E uma subquestão seria, por que me tratar com tantas risadas? – Tomei meus olhos a sua face, já um tanto árida.

- Sabe quando se tem tudo nas mãos, exatamente tudo? – Deu uma boa tragada, com os cigarros entre os dedos, tão epicamente marcados que nem Bowie traduziria em uma canção, pos o álcool à entrelaçar suas vantagens vocais e processou seu pensamento como se eu já concordasse: - Então. Exatamente por isso estava frustrada, e desculpe. Acabei socando você por isso. Minhas risadas já foram bem mais altas, meu grau de felicidade bem mais visto. Em 1949 eu poderia ter sido, em 2008 eu nem sequer existo! E nada do que eu poderia ter feito, embora caprichoso, poderia ter evitado meu destino. Depois de anos e mais anos, décadas e décadas pensando agente chega à algumas conclusões. O rádio era uma paixão que poderia ter sido duradoura, o teatro um brinquedo nas mãos de uma infeliz criatura, e o interior uma barreira que eu deveria ter transpassado. E você? Só posso responder se você me responder.

Haveria algo que eu pudesse dizer depois de uma descrição daquela? Eu não tinha motivos para me entristecer, certamente não era o cara mais esperto do mundo, mas também não era um burro. Sim passei maus momentos, mas se computassem todos os pontos feitos da minha infância até minha vida adulta eu teria ainda muitos pontos de sobra. A Infância fora extremamente agradável, a adolescência nem tanto, mas todos passamos por essas fases igualmente salvas mínimas exceções, amores e desamores tive os que procurei, gostos e sabores aqueles que testei, de modo que, como eu poderia refletir minha frustração contra a dela? Pelo visto ela sim tinha tido um grande problema, eu bem ou mal fazia aquilo que me propus a fazer, respeitado ou não, traumático ou não. Tornei-lhe então com uma diretriz:

- Bom, acho que minha frustração é pelas coisas que eu julgava ter, e não tenho. Talvez quando eu emoldurei minha vida, tenha faltado cola para pregar certamente a armação. Não deixei de fazer, o que pode ter sido um erro por fazer mal feito, ou não esgotar todo o tempo em fazer, mas não queria mesmo plantar uma arvore, escrever um livro, ou ter um filho. – Olhei pela fresta da porta e estranhei o silencio das sirenes e a calmaria que pairava. – Estranho! Até agora não colocaram a porta a baixo.

As horas não passam de bobos compassos dentro de desritimado andamentos. Não, eu não estava em mais uma batalha mental, ou artifícios especulativos. Não temeria eu tamanho absurdo, e nenhuma das explicações pareciam ter coerência, de modo que como eu poderia ter coerência, ou mesmo exigi-la?

- Isso está bem estranho já moça! Você me levou à um grau de vicio que eu jamais pensei que poderia ter. Agora a policia vai me prender, a gorda me processar, e eu podia estar tão bem dormindo no calor do quarto. Mas não me impressiono por qualquer maldito rabo de saia! Maldito seja esse rabo de saia!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Top Five.





Solidamente não sei se é mais fácil culpar ou acrescentar algo em uma sopa que já vem tão estragada. Exemplificaria com quaisquer de umas influências literárias, ou mesmo musicais e de nada serviria, é um fato solidamente bizarro que somos aquilo que lemos e ouvimos. Eu era triste porque ouvia musica pop, ou ouvia musica pop porque eu era triste? Paradigmas. Essa frase constitui bem o que eu ou você poderíamos ser juntos, ou ao menos descrever a frustração de não saber todas as respostas a cerca disso, de modo que somos um aglomerado de macacos estudando e constituindo um clã.

A alta fidelidade estaria dispersa em qualquer rainha da idade das pedras ou quaisquer pedras rolantes. O segredo abstrairia um monte de palavras que pudessem lhe dar um sentido, saber o que indica o autor, furtivamente integrar a cena da criação, e obviamente se sentir menosprezada. Sim existira um tempo onde as coisas simples falavam por si, hoje apenas chips, quantidades e necessidades de confetes cercam nossos dias, naturalmente não tão ruim. Nick horby estava certo, como Richards, Dylan e até Roy Lichtenstein, talvez Jeff com seu country alternativo também estivesse, quem eu tenho certeza que estava fora o primeiro ser que inventou o cafezinho, e nada de didático, quer saber quem foi vá ao google.

Meu clã esta torpe, e embebido em velhas canções, velharias e poeiras que entram pelos poros. Cada acaro é um nítido sinal de que opções em mim podem não ter tanto simbolismo, de fato não tem. O brilho dos óculos escuros, das camisas negras, das botas negras, é mais elegantes que isso. Se deus me batizasse saberia que ele existe. Se soubesse que ele existe, talvez te entendesse com mais atenção, e talvez não encarasse como um idiota qualquer.

Se hoje fosse fazer-te uma fita, com as musicas que embalaram o coração do cowboy, você saberia dizer de cor e salteado o porque. Entre cada trecho, cada letra, e cada centímetro de nuances de som não seria nada tão paquidermal quanto Beck, ou Sean, nada tão cósmico quanto Kasabian ou tão ridículo quanto CSS, seriam clássicos.

1 - Femme Fatale - Velvet Underground
2 - Confort Me - Grand Funk Railroad
3 - Beatifull Broken - Gov't Mule
4 - Oh sweet nuthin - Velvet Underground
5 - Lady Grinning Soul - David Bowie

“She'll come, she'll go. She'll lay belief on youSkin sweet with musky oilThe lady from another grinning soul”