terça-feira, 20 de maio de 2008

All Blues is gone after Midnight Cowboy!





O fusca era tão apertado, como compete a qualquer fusca ser, isso estava longe de ser um incomodo, entretanto o estofado bordô recoberto com riscas de zebra, sim era de extremo mau gosto, não que fosse um problema já que o automóvel nem meu era. Nos pára-brisas alem da sujeira sujeita à pombos, um escudo do clube de coração, sim ou o carro era uma herança ou ela era completamente rubro-negra, abusei de sua hospitalidade e simplesmente explanei sobre aquilo, de modo que ela tão abruptamente parou o carro que minha face foi de encontro ao console.

O desconforto agora sim uma cicatriz proposta no formato da Virgem, a santíssima trindade seria algo completo para um agnóstico como eu. Descomposta de sua leveza ao volante digna de uma Greta Garbo sem carta de direção, ela apenas pos suas mãos sensatamente sobre o volante, retirou suas sandálias de marfim dos pedais e prontamente prestou me socorro. Claramente ela não sabia de si, eu tampouco. Devido ao desconforto e a pouca sorte da noite, um trauma com Fuscas, estofados gritantes e escudos pitorescos futebolísticos, o saldo da noite não seria tão miserável, exceto pelo que viria a seguir. Ela ligou o radio. Oh sim! Aquela caixa de abelha não permitia a eu ter pensamentos, enquanto trocava de estação lembro-me exatamente de ter pensado algo do tipo "Que merda é essa?", mas não tenho certeza, o desconforto sonoro era obvio, sem contar que em nenhum momento ela disse uma única expressão lingüística boçal. Poderia algo ir, além disso? Temia que sim.

De fato, foi. Bem alem das terras charmosas da Avenida Portugal, adentrando as terras sombrias mais não menos interessantes da Rua Lisboa, a pequena "terrinha" em poucos passos. O rádio soava Roberto Carlos, alguma coisa dos anos setenta dele, não dava pra adivinhar pela sintonia mau efetuada. Sim um ataque de ansiedade era a ultima coisa que eu poderia esperar dela, sem nome, sem fala, eu só pedirá uma carona, de modo que nada alem de pedir para descer eu poderia fazer, juro pensei nisso, mas com aquelas coxas e aqueles lábios seria no mínimo leviano ao tentar algo do tipo. Chorava como um bebe, dizia não ter culpa de nada, e eu imaginando "de que raio de mundo esse ser saiu...", ela prosseguia com uma leveza nos soluços de seu pranto irritante, aquele ataque de ansiedade só poderia ter duas razões, a primeira um descontrole emocional nítido, baseei essa teoria no estofado, a segunda razão obvia seria a perda do ente dono do automóvel, o que explicaria uma moça sair em um fusca as três da manha, evitei confirmar qualquer de hipótese, não queria interromper o fato, mas estava de fato curioso estranho não? Enfim não liguei.

Enquanto o relógio desperdiçava seu tempo girando, ela chorosa, combinando um ar de mistério e curiosidade com um absoluto poder de conhecimento, eu apenas me intrigava mais, resolvi abrir a boca:

_ Olha se quiser me deixar aqui está bom! - Exclamei orando pela negativa de minha frase, não deu outra, ela logo limpando os olhos rebateu: _ Não! Prefiro ir pra outro lugar, no caminho agente decide se você vai ou se fica. Certo?

Ora o que eu poderia fazer com uma mulher no volante daquela forma, a não ser concordar? Não seria eu a deixá-la sozinha naquele estado, certamente disse: - Tudo bem, mas não prefere ir a um canto melhor da cidade, onde possamos descer do carro e andar nu rindo de macacos? _ Sim infelizmente eu disse isso, as palavras brotaram de minha boca de modo a não conseguir evitar minha canalhice. Logo pensei "Merda, ela morrendo aqui e eu propondo um Motel." Satisfatoriamente ela riu o que não poderia deixar de ser uma habilidade em efetuar disparos no meu solto coração. Aquilo me encheu de empatia, me trocou qualquer expectativa ruim, qualquer sintonia mal efetivada de Roberto Carlos. Ligou novamente o carro e partimos.

O fato era que naquela circunstancia, qualquer coisa que ela fizesse já era lucro, mas notei que valia mais que isso. Já passavam das quatro. Uma hora de carro, em um caminho de trinta minutos, certo que havia alguma falha naquela vestuária sob as carnes. Subimos algumas quadras, e sim lá estava a melhor avenida que um ser humano pode encontrar a avenida que liga Estados, o fim de qualquer cidade, e realmente o inicio das perversões mais divertidas que um podre cowboy pode alcançar, um road movie, um trip movie, qualquer artifício para explicar a Alameda dos 200 Motéis seria completamente desnecessário.